terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O DESAFIO DO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

 


 

 

Todos nós, seres humanos, somos uma totalidade, o Processo de Individuação é então, na concepção junguiana, o caminho do autoconhecimento e da chamada auto realização do Self, para que a pessoa se torne aquilo que ela é de fato e total.

O Processo de Individuação proposto por Carl Gustav Jung (2016) consiste no indivíduo que inicia a sua vida numa espécie de totalidade indiferenciada. Bem como uma semente que cresce e se transforma numa bela árvore, o ser humano se desenvolve para chegar à sua totalidade, ou seja, a personalidade Plena.

Quando os limites do eu se tornam claros, começamos a compreender melhor os limites do outro. Diante disso, o melhor caminho é se diferenciar das demais pessoas. É preciso questionar a si mesmo para encontrar a si mesmo.

O processo de individuação é também uma forma de mudança através da autoconfirmaçao e da autoafirmação de si mesmo.

O sujeito começa como uma simples estrutura e vai se transformando numa estrutura complexa, assim como uma larva se desenvolve e se transforma numa Borboleta.

Segundo Jung (2016), a Psicoterapia é um Processo de Individuação.

A individuação para a Psicologia Analítica, se desenvolve através de quatro preciosos passos:

·         Reconhecimento do Ego e conscientização das Personas;

·         Reconhecimento e Confronto com o aspecto sombrio (SOMBRA);

·         Confronto com a Anima/ Animus;

·         Conexão com o Self.

O processo de Individuação é um grande desafio na vida de todos os seres humanos. De acordo com Verena Kast (2016) há pessoas que percorrem o caminho da individuação, apenas no contexto de suas relações; elas costumam fazer grandes renúncias em prol dos outros, colocando de lado o próprio eu. Este caminho é denominado decadência da individuação, pois o seu desenvolvimento é muito prejudicial, por conta de seu desequilíbrio.



Conforme Verena Kast (2016), a Decadência da Individuação consiste em dois aspectos, que se configuram em pólos opostos.

1.      Quando nos empenhamos demais pelo outro e deixamos o nosso próprio eu de lado;

2.      Quando somos egoístas demais e tudo gira em torno de nós.

 

Percebam a importância do equilíbrio!

  A individuação busca estimular o indivíduo a despertar o melhor de si e do outro, tirando-o do isolamento e estimulando o outro a empreender uma convivência coletiva maior e saudável. Tal fato, nos ensina que o processo de individuação busca aproximar o mundo do indivíduo através do caminho do autoconhecimento.

 

A Psicoterapia tem um papel fundamental no contexto do autoconhecimento , fortalecimento e direcionamento do Ego, no sentido de que o analista e o analisando se unem na tarefa do pensar. Podemos afirmar que o processo terapêutico é de fato o processo de individuação. O Desafio é intenso, muitas vezes, doloroso, porém é extremamente necessário na busca pelo equilíbrio e o grande encontro consigo mesmo.

 

 

 Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom

CRP: 06/143949

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

JUNG, C.G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira. Rio de Janeiro. 2016.

KAST, Verena. O Caminho para si mesmo. Ed. Vozes. Petrópolis. Rio de Janeiro. 2016.


A BELA E A FERA

 


Aprendendo a amar a Fera, Bela desperta para o amor humano disfarçado na sua forma animal (e, portanto imperfeita), mas também genuinamente erótica.

(Joseph L. Handerson. Os mitos antigos e o Homem moderno. Livro: O Homem e seus símbolos. Org: Carl Gustav Jung.2016)

 

REFLEXÃO:

Amar é uma viagem misteriosa onde cada um encontra o outro, e por trás do outro, encontra-se a si mesmo. Falar sobre o amor é confrontar com o inexplicável e dar voz ao mundo imaginário de nossos próprios fantasmas.

Só podemos nos tornar verdadeiramente seres humanos a partir do momento que somos nutridos pelo afeto contido na experiência amorosa. Aprendemos o que é o amor quando entramos em contato com o outro. Através do contato com o amado, posso também encontrar a mim mesmo.

O amor em si é a fonte geradora, criadora de todas as coisas. Portanto, todo amor verdadeiro profundo é um sacrifício, movido pela entrega. 

A entrega e o sacrifício de Bela fizeram com que ela despertasse verdadeiramente para o Amor.

 

Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom

CRP: 06/143949

 

O DAIMON NA CONCEPÇÃO DE CARL GUSTAV JUNG

 


No presente artigo gostaria de propor uma reflexão sobre um tema de muita relevância na Psicologia Analítica Junguiana.

O termo Daimon carrega as suas raízes da tradição grega e define a maior fonte de inspiração e criatividade. A figura que escolheu esse termo e o incluiu nas bases de sua psicoterapia foi Carl Gustav Jung (1875-1961).

Em cada um de nós vive um “daimon”, e segundo Carl Gustav Jung, ouvi-lo pode ser decisivo para as nossas vidas. Essa voz se origina de nossa psique criativa e nos propõe mudanças e novos desafios. O problema é que na maioria das vezes não temos a ousadia de ouvir essa voz.

É necessário termos um propósito. Estamos sempre em busca de um sentido para a vida. Um ser humano sem propósito é como um navio sem leme. Desta forma, uma maneira ideal de encontrar um curso em meio a balança da vida consiste em despertar o nosso daimon, invocando-o das profundezas do nosso ser para que nos favoreça e nos impulsione.

Se quisermos descobrir a nossa vocação, somos obrigados a ouvir a voz do nosso daimon, pois cada um de nós possui um demônio particular que nos aconselha, nos oferece idéias e perspectivas sobre para onde devemos dirigir a nossa intenção.

O que é exatamente o Daimon?

Um daimon, na verdade, não é um demônio, embora na tradução grega seja discorrido dessa forma. O daimon é uma entidade que podemos conceber quase que como um gênio, como um ser divino.

Para despertar o daimon é necessário percorrer a estrada do autoconhecimento.

O daimon deseja que você seja disciplinado.

A Criatividade surge com a disciplina diária.

A criatividade mais produtiva surge de uma mente calma e de um coração harmonioso.

A harmonia nasce a partir do despertar. O despertar implica em olhar para dentro de nós mesmos e nessa integração descobrimos a essência de nossa Totalidade.

O verdadeiro significado da felicidade é descoberto e vivenciado de forma plena quando vivemos em harmonia com o nosso daimon.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom

CRP: 06/143949


O QUE SE ESPERA DE UM PSICOTERAPEUTA?

 


Pretendo iniciar este artigo propondo ao caro (a) leitor (a) a seguinte reflexão:

O Paciente é consciente das suas necessidades, porém ele é inconsciente das raízes.

De acordo com os estudos propostos por Kinnon e Michels (1971) quando uma pessoa carrega em si qualquer espécie de sofrimento ela deseja alívio; espera-se que a figura do psicoterapeuta forneça este alívio. A esperança do alívio é a principal motivação que leva o paciente a “dizer tudo”, através da relação de confiança que é construída ao longo da aliança psicoterapêutica. Sendo assim, é possível obter uma quantidade considerável de informações sobre um paciente através da arte de escutar.

Segundo Cunha (2000) a Dinâmica da Interação Clínica entre Psicólogo – Paciente, vai se desenvolvendo durante o Processo Psicodiagnóstico.Essas duas pessoas iniciam uma relação e passam a interagir em dois planos: Atitudes e Motivações. Ambos são compostos por aspectos Conscientes e Inconscientes. Através da coleta de dados, o Psicoterapeuta inicia o seu julgamento clínico e nesta etapa do processo é preciso estar bem atento às questões fundamentais trazidas pelo próprio paciente.

A partir da reflexão que apresento nesta análise descritiva, me atrevo a enfatizar três aspectos importantes que nos remete à expectativa que é carregada pelo paciente no início do processo terapêutico. São eles:

·         Alívio;

·         Esperança;

·         Confiança.

Para Kinnon e Michels (1971) o psicoterapeuta é um especialista no campo das relações interpessoais. O que se espera dele é que ele seja perito no manejo da entrevista clínica e principalmente seguro e confiante em relação ao seu trabalho.

O contato com o paciente é muito importante. Para Carvalho (1955), a expressão contato, se origina da raiz “contactum”, que significa exercitar o tato. Dessa forma, é importante ressaltar que o Processo Psicodiagnóstico nos remete ao ato de tatear pelos meios da angústia, da desconfiança e do sofrimento que o paciente carrega através dessa busca pela ajuda. Tatear é lidar com as mais variadas resistências ao processo, sentimentos e situações desconhecidas.

Segundo Carl Gustav Jung (2015), a marcação de uma consulta é a formalização de um processo já iniciado, precedido de uma angústia intensa e ambivalência. Nesta etapa, o paciente já admite a existência de um grau elevado de perturbação e de intensa dificuldade de elaboração que justificam a necessidade de buscar um auxílio terapêutico.

O psicólogo está ali como nosso auxiliar. Ele não tem o poder de nos proporcionar a cura, mas pode nos auxiliar na busca pela cura tão almejada. A Psicoterapia não pensa pelo paciente, pelo contrário, ela o auxilia no contexto da expansão de seu próprio pensamento.

O objetivo da psicoterapia não é fornecer ao paciente respostas ou receitas prontas, mas sim fazer com que o analisando elabore todas essas emoções internas, formulando as sua própria linha de pensamento, através do conhecimento de si mesmo.

Estar em Atendimento Clínico significa que você não está mais pensando sozinho. Estar em Terapia significa “pensar junto” – você e o analista.

Quando você está pensando sozinho, a chance de fantasiar uma realidade é muito grande e sua conseqüência pode se tornar fatal. Mas quando se está pensando junto, torna-se muito mais pleno o caminho para a elaboração dos conflitos internos.


Evandro Rodrigo Tropéia 

Psicoterapeuta. CRP 06/143949

  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

C. G. Jung. A prática da psicoterapia. 2015.

CUNHA, Jurema Alcides – Psicodiagnóstico V – 2000 – Carvalho (1955) – O Contato.

HANS DIECKMAN, Berlim (Revista de Psicologia Analítica – Vol III, nº 1 – Março 1972) – trad. Denise Mathias e João Bezinelli

KINNOM, Mac. MICHELS, R. A entrevista psiquiátrica na prática clínica. 1971.