quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O Pássaro de 9 cabeças

No monte Nieyao existia um pássaro de nove cabeças.

 Quando uma cabeça queria comer, as oito restantes disputavam com ela a comida. Elas lutavam, bicando-se mutuamente e ensopando de sangue as penas. No fim, as nove cabeças estavam machucadas e o pássaro não havia conseguido comer nada.
Um pássaro marinho, assistindo à cena, começou a rir:
-Não percebem que a comida que entra pelas nove bocas enche a mesma barriga? Não há razão para que nove cabeças vivam brigando umas com as outras!

(Liu Ji)

O SEQUESTRO DA SUBJETIVIDADE E O DESAFIO INDIVIDUAL NA BUSCA CONSTANTE PELA TOTALIDADE

Um dos grandes fatores que contribuem para a perda parcial ou total da energia psíquica a qual denominamos libido é o sequestro do próprio eu. Pessoas deixam de ser para si mesmas para serem parte total ou propriedade do outro, do objeto amado. Elas deixam de ser “alguém” para serem apenas “algo”.
Outro grande tema psicanalítico que contribuirá para o desenvolvimento desse trabalho de maneira expressiva é o conceito de Relação Narcisícas ou Narcisistas, proposto por Sigmund Freud no ano de 1914, em sua obra “Sobre o Narcisismo: Uma Introdução”.
Freud (1914) havia declarado que o narcisismo era uma fase intermediária necessária entre o auto-erotismo e o amor objetal. Ele descreve em sua linha de pensamento um breve sumário dos caminhos que levam à escolha de um objeto.
Uma pessoa pode amar:
1) Em conformidade com o tipo narcisista:
a) O que ela própria é (ela mesma);
b) O que ela própria foi;
c) O que ela gostaria de ser;
d) Alguém que foi uma vez parte dela mesma.

2) Em conformidade com o tipo analítico (de ligação):
a) A mulher que alimenta;
b) O homem que a protege.
O desenvolvimento do ego consiste num afastamento do narcisismo primário e dá margem a uma vigorosa tentativa de recuperação desse estado. Esse afastamento é ocasionado pelo deslocamento da libido em direção a um ideal do ego imposto de fora, sendo a satisfação provocada pela realização desse ideal. (FREUD, 1914)
Sigmund Freud
Sigmund Freud relata que: O ideal do ego impõe severas condições à satisfação da libido por meio de objetos, pois ele faz com que alguns deles sejam rejeitados por seu censor como sendo incompatíveis onde não se formou tal ideal, a tendência sexual em questão aparece inalterada na personalidade sob a forma de uma perversão. Tornar a ser seu próprio ideal, como na infância, no que diz respeito às tendências sexuais não menos do que às outras – isso é o que as pessoas se esforçam por atingir como sendo sua felicidade.
O Ego idealizado desvenda um importante panorama para a compreensão da psicologia de grupo. Além do seu aspecto individual, esse ideal tem seu aspecto social; constitui também o ideal comum de uma família, uma classe ou uma nação.
Ao mesmo tempo, o ego emite as catexias objetais libidinais. Torna-se empobrecido em benefício dessas catexias, do mesmo modo que o faz em benefício do ideal do ego, e se enriquece mais uma vez a partir de suas satisfações no tocante ao objeto, do mesmo modo que o faz, realizando seu ideal. (FREUD, 1914)
A psicanálise nos ensina que para um vínculo ser estabelecido com o outro de maneira saudável, dependerá da maneira como se é capaz de relacionar-se consigo mesmo.
A idéia proposta no trabalho presente sobre o estabelecimento de vínculos é o que chamaremos aqui de “Alianças e Alienações”.
A Aliança encontra-se na dimensão do acordo firmado entre duas ou mais partes. Este vínculo tem como objetivo primordial e realização de fins que coincidem para o bem comum.
A priori, a aliança acontece pela identificação que ocorre de ambas as partes envolvidas na construção do vínculo. Existe algo no outro que parece coincidir com algo que falta no sujeito. Esse fato ocorre de forma inconsciente, por conta da dificuldade que temos em enxergar com clareza aquilo que nos falta.
            O processo de construção e desenvolvimento de uma verdadeira aliança de vê ocorrer de forma lenta e regada por muita dedicação.
           Por outro lado, a partir de uma fragilidade emocional, o sujeito se percebe submergido numa aliança perversa, a qual denominamos “Alienação”.
Na Alienação, o sujeito se vê impedido de ser ele mesmo pelo fato de nem ao menos suspeitar de quem ele realmente é.
O indivíduo torna-se incapaz de estabelecer uma confiança a si mesmo, e assim projeta toda sua energia psíquica no outro, o objeto amado. O ego desenvolve uma extrema carência de si mesmo e se coloca em posição de negação.
A verdadeira aliança é nutrida pela capacidade de se conhecer as partes envolvidas na construção do vínculo.
Aliança saudável e verdadeira
A Aliança será saudável quando for mantida pelo carinho, dedicação e compreensão de ambas as pessoas, desenvolvendo então, um vínculo afetivo emocional baseado em uma relação de confiança.
A vida humana é uma travessia constante. Vivemos em êxodos contínuos, em processos de deslocamento quase que intermináveis que são conscientes e inconscientes. Enquanto estivermos em vida seremos convidados a estar em movimento o tempo todo e isso nos proporciona a superação de estágios, condições e até mesmo no campo das atitudes.
No entanto, a questão que pretendo propor aqui é que essa travessia não é banhada por imenso mar de rosas de ouro e cristais brilhantes, mas quero desenvolver juntamente com os caros leitores a expansão do pensamento de que esse caminho a ser percorrido é um processo doloroso e extremamente complexo.
Nascemos como seres individuais, mas a condição de ser pessoa na sua totalidade é um lugar a ser alcançado. Precisamos, através de nosso processo de desenvolvimento psíquico pessoal, chegar aos dois pilares fundamentais que proponho no presente trabalho:
Ser pessoa no conceito da totalidade no contexto de Mundo Interno e Mundo Externo consiste em “dispor de si” e “dispor-se ao outro”.
O que defino aqui por Sequestro do eu é um acontecimento que fere diretamente o primeiro aspecto do processo que é a disposição para si mesmo.
Na vida humana, estamos constantemente descobrindo a nossa totalidade. Para tal afirmação vamos nos atentar aqui a uma comparação muito interessante que irá contribuir consideravelmente para a expansão da nossa proposta de pensamento:
O mosaico é composto por partes; essas partes se unem em um conjunto e compõem uma única peça. São inúmeros e pequenos significados que juntos formam a totalidade do mosaico.
A pequena peça é fundamental para a construção do todo, e por isso não pode ser separada ou simplesmente descartada. Nós seres humanos, somos desenvolvidos a partir dessa mesma ideia.

Quando o sujeito é sequestrado do seu próprio eu, o primeiro rompimento que se dá é com a materialidade de seus significados. Tudo perde o sentido, nada tem valor com a ausência de seu objeto amado.

(Evandro Rodrigo)

Nascimento e Mudança

Nascimento e Mudança são palavras que se completam naturalmente.
Enquanto nascer significa entrar num mundo novo e desconhecido. 
Mudar significa refletir e seguir para uma nova rota de vida e transformação. Porém as duas são muito complexas e geram medo e insegurança.

(Evandro Rodrigo)

SEQUESTRO DO EU: POSIÇÕES - SEQUESTRADOR E SEQUESTRADO


Dentro do que chamo aqui de sequestro do eu, o objeto amado toma a posição do sequestrador que tem o domínio e o controle total da situação no cativeiro simbólico, enquanto que, o sequestrado é o ego fragilizado, debilitado em sua totalidade por conta dessa perda extremamente dolorosa da liberdade.
É a doentia relação existente entre Dominador e Dominado, onde o “outro” mantém o controle total do funcionamento psíquico do ego completamente empobrecido.
O Sequestrador inicia no sequestrado um terrível processo de privações a princípio psicológicas que posteriormente atingirão o corpo físico do sujeito dominado. Ao ser afastado de suas particularidades e distanciando-se de tudo que o idealiza, o sequestrado mergulha num estado de solidão. Não se trata aqui de uma solidão comum e sadia pela qual todos nós passamos um dia e em muitos momentos é expressamente necessária. Trata-se de uma solidão muito profunda, caracterizada como a ausência de si mesmo.
Ao se afastar de sua subjetividade e tudo o que ela representa, o sujeito sente-se excluído e privado de ser ele mesmo e passa a viver categoricamente em função do objeto amado.
O sequestro da subjetividade humana é comparado a um cárcere. Existem cárceres que vão muito mais além de paredes e celas. São prisões que não são concretas, são invisíveis aos olhos humanos e, portanto não há nada concretamente a ser quebrado.
Vamos utilizar a seguinte metáfora:
No sequestro do corpo há um cativeiro localizado que precisa ser aberto. Já no sequestro do eu os cativeiros não possuem localizações visíveis. Trata-se de uma prisão sutil, mas por outro lado sua crueldade é muito mais intensa e dolorosa.

Este sequestro consiste em tudo aquilo que nos priva de nós mesmos, onde corremos o extremo risco de abrir mão de nossos próprios valores e projetamos toda nossa disposição e totalidade de ser pessoa no “outro”.

FACES DA VIDA: Luz e Sombra


Segundo o pensamento de Carl G. Jung (1875 -1961), dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos.
Todos os seres humanos tem seu lado obscuro. Se tudo correr bem é melhor nem conhecer.
Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real é o próprio homem.
A partir desse pensamento quero propor aqui o  raciocínio de que a vida é um ciclo de energia onde eu mesmo sou o equilíbrio entre o medo e a coragem, a pergunta e a resposta, a alegria e a tristeza, a luz e a sombra. Somente pelo equilíbrio entre as grandes extremidades será possível compreender a Fé e a Razão.
Equilíbrio é saber até onde posso chegar e até onde vai o meu limite. Equilibrar-se implica em autoconhecimento.
Torna-se expressamente impossível alcançar o ponto de equilíbrio sem passar pela estrada do conhecimento de si mesmo.

O homem planeja, estuda e arquiteta planos mirabolantes para combater o seu inimigo, porém é quase incapaz de elaborar uma estratégia para conhecer a si mesmo.
É preciso compreender a máxima expressão de que o meu maior inimigo sou eu mesmo.
"Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa,
Que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar,
Inclusive o meu inimigo, em nome de Cristo,
Tudo isto, naturalmente,
Não deixa de ser uma grande virtude.
O que faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço.
Mas o que acontecerá, se descubro, porventura,
Que o menor, o mais miserável de todos,
O mais pobre dos mendigos,
O mais insolente dos meus caluniadores,
O meu maior inimigo,
Reside dentro de mim, sou eu mesmo,
E precisa da esmola da minha bondade,
E que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar."

Sou ser total buscando minha individualidade.Sou Vida e Morte. Luz e Sombra. Sol e Chuva. Sou alegria e sou a dor.
Eu sou Alma e sou Amor.
Em minha totalidade carrego dentro de mim o herói e o bandido:
O Herói: o homem doce, encantador, sensível e amável. No entanto esse herói carrega em si a sua sombra, o lado obscuro, arrebatador, potente e consumido por um fogo arrasador.
Os heróis são um modelo ideal do Complexo do ego. Eles representam um modelo de comportamento da personalidade consciente. Aquele que age em harmonia com seus instintos e com a totalidade psíquica.
O lado escuro que todos carregam e si mesmos, é o que denominamos "sombra".
O Arquétipo sombra é o lado obscuro do ser humano. Nele contém os instintos mais primitivos da nossa personalidade, onde se encaixam nossas paixões desenfreadas, nossos impulsos e desejos na maioria das vezes desajustados.
(Evandro Rodrigo)


O Amor se aprende sendo amado


O amor do ser humano nasce quando se percebe o amor do outro.
Aprendemos a amar em casa, pois o amor da mãe é fundamental para que o ser humano se forme.
O amor se aprende sendo amado.


Solidão...

A solidão dói e muito, porém ela te ajuda a encontrar uma pessoa muito especial: Você mesmo!


(Evandro Rodrigo)

O Homem que vendia Lanças e Escudos

Na região de Chu (China) viveu um homem que vendia lanças e escudos.
- Meus escudos são tão fortes - vangloriava-se ele - que nada consegue atravessá-los. E minhas lanças são tão afiadas que conseguem perfurar qualquer coisa.
Alguém que vinha passando quis saber:
- E o que acontece se suas lanças baterem em seus escudos?
O Homem não soube responder.

(Han Feizi)


O homem planeja, estuda e arquiteta planos mirabolantes para combater o seu inimigo, porém carrega em si uma intensa dificuldade de elaborar uma estratégia para conhecer a si mesmo.

(Evandro Rodrigo)