segunda-feira, 26 de março de 2018

NISE DA SILVEIRA – O OLHAR COM O CORAÇÃO




Neste artigo, quero compartilhar com o caro leitor a história de uma grande mulher guerreira, muito a frente do seu tempo.
Considerada como o maior nome da História da Psiquiatria do Brasil de todos os tempos. Passado, presente e futuro! Jamais será superada!
Nise da Silveira (1905-1999) tem a sua história de vida profundamente marcada pelos estudos sobre o comportamento do homem e a evolução do tratamento de psicopatologias, destaca-se de maneira especial a sua dedicação para com a esquizofrenia.





 Dedicada seguidora dos ideais de Carl Gustav Jung (1875-1961), Nise transformou completamente a forma de tratamento dos doentes mentais, através da utilização da arte como expressão terapêutica, métodos inusuais, segundo ela mesmo sempre ressaltava.






Nise da Silveira é considerada a pioneira na elaboração de pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais, e defendia o fim de tratamentos considerados por ela como desumanos, como o eletrochoque, o uso de drogas e o confinamento clínico.
De acordo com a concepção de Nise, o ato de inventar algo nos concede o privilégio de participar ativamente do plano de Criação e nos faz cunhar e compreender o belo. Esse processo nos impulsiona a enxergarmos possibilidades onde nunca poderíamos imaginar. Nise da Silveira sempre acreditou, batalhou durante toda a sua vida por isso, muitas vezes sendo ridicularizada e desvalorizada. No entanto, ela não desanima e nos ensina que para navegar contra a corrente são necessárias condições raras:
·         Espírito de aventura,
·         Coragem,
·         Perseverança
·          Paixão.





Todo mundo deve inventar alguma coisa, a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente é o estímulo à criatividade. Ela é indestrutível. A criatividade está em toda parte.” (Nise da Silveira)







Nise demonstrava ser uma forte defensora da expressão da loucura como uma fonte necessária para a vida humana.

“Não se cura além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas.”
(Nise da Silveira)

Nise da Silveira deixou para nós, amantes da psicologia e fascinados pelos mistérios da Psique humana, um grande legado:
·         Implantou a terapia ocupacional no universo psiquiátrico;
·         Utilizou a arte para tratar problemas graves de saúde mental;
·         Revelou as emoções dos esquizofrênico, através da humanização;
·         Suas realizações despertaram o interesse de Carl Gustav Jung.

“A configuração de mandala harmoniosa, dentro de um molde rigoroso, denotará intensa mobilização de forças auto-curativas para compensar a desordem interna. Então pedi para que fotografassem algumas mandalas e as enviei com uma carta para C. G. Jung, explicando o que se passava. Foi um dos atos mais ousados da minha vida.” (Nise da Silveira)

No ano de  1957, Nise é convidada por mestre Jung para estudar no Instituto Junguiano, em Zurique, na Suíça, onde sua grande realização consistiu na exposição do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente no II Congresso Internacional de Psiquiatria. Na volta ao Brasil, em 1958, ela criou o Grupo de Estudos C. G. Jung no Estado Rio de Janeiro.
Nise da Silveira carregava em seu interior uma forma muito intensa e particular de olhar o ser humano. Tinha definitivamente a humanidade e a empatia em suas atitudes e na sua forma subjetiva de tratar o outro.
Nise tratava cada um de seus clientes de maneira muito especial e incondicional. Cada um era visto e encarado de forma única e muito particular.




 

Há beleza na vida, há beleza em tudo. Vocês veem?... Há beleza na alegria, e mesmo na saudade, na tristeza, no sofrimento e até na partida, há beleza. A vida é uma beleza.” (Nise da Silveira).










É preciso parar um pouco diante da correria da vida para podermos observar o essencial, que muitas vezes, deixamos de perceber, pois são tantos os problemas, tantas preocupações, dores, angústias e decepções. Nise sempre conduziu o seu trabalho com muito carinho e competência e nos ensinou que muitas vezes o nosso olhar para o mundo se limita e perdemos a visão que nos dá a capacidade de enxergar aquilo que está além das nossas forças.


Autor: Evandro Rodrigo Tropéia

O OBJETIVO DO ATENDIMENTO CLÍNICO NA CONCEPÇÃO ANALÍTICA




Caro leitor, quero iniciar o presente artigo, apresentando-lhes um importante apontamento de Carl Gustav Jung (1875-1961) que se encontra na brilhante obra “Memórias, Sonhos e Reflexões”, no capítulo onde o mestre Jung nos relata sobre o seu Confronto com o Inconsciente:


“(...) Na medida em que conseguia traduzir as emoções em imagens, isto é, encontrar as imagens que se ocultavam nas emoções, eu readquiria a paz interior. Se eu tivesse permanecido no plano da emoção, possivelmente eu teria sido dilacerado pelos conteúdos inconscientes. Ou talvez, se tivesse reprimido, seria fatalmente vítima de uma neurose e os conteúdos do inconsciente destruir-me-iam do mesmo modo. Minha experiência ensinou-me o quanto é salutar, no ponto de vista terapêutico, tornar conscientes as imagens que residem por detrás das emoções.” (p. 221)

A Prática da psicoterapia Junguiana consiste em trabalhar de dentro para fora, ou seja, o processo terapêutico com base na Psicologia Analítica visa à expansão do pensamento, do autoconhecimento, a elaboração dos conflitos internos e a busca pelo equilíbrio.
Todos nós carregamos em nossas vidas, um imenso conteúdo de emoções que se concentram em nosso interior que precisam ser elaboradas e traduzidas em imagens, isto é, os conteúdos inconscientes precisam encontrar alguma maneira para se expressar, seja através da linguagem, das atitudes e até mesmo através de uma expressão simbólica. Sendo assim, afirmamos que os conteúdos inconscientes se tornam conscientes.
Estamos diante de uma tarefa complicada!
É uma jornada extremamente complexa, a ponto de que sozinho é impossível de se alcançar um objetivo claro. É preciso expandir o pensamento, isto é, pensar juntos!



O atendimento clínico não existe apenas para nos dar respostas ou nos apontar a cura para nossas neuroses. O Processo Terapêutico é muito mais do que isso, pois ele nos remete a um contexto de Aliança Terapêutica (Relação de Confiança).
O psicólogo está ali como nosso auxiliar. Ele não tem o poder de nos proporcionar a cura, mas pode nos auxiliar na busca pela cura tão almejada. A Psicoterapia não pensa pelo paciente, pelo contrário, ela o auxilia no contexto da expansão de seu próprio pensamento.








O objetivo da psicoterapia não é fornecer ao paciente respostas ou receitas prontas, mas sim fazer com que o analisando elabore todas essas emoções internas, formulando as sua própria linha de pensamento, através do conhecimento de si mesmo.
Estar em Atendimento Clínico significa que você não está mais pensando sozinho. Estar em Terapia significa “pensar junto” – você e o analista.
Quando você está pensando sozinho, a chance de fantasiar uma realidade é muito grande e sua conseqüência pode se tornar fatal. Mas quando se está pensando junto, torna-se muito mais pleno o caminho para a elaboração dos conflitos internos.

Encontre seu caminho, busque sempre pelo equilíbrio.
Faça terapia!
(Evandro Rodrigo Tropéia)



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
JUNG, Carl Gustav – Memórias, Sonhos e Reflexões – Ed. Especial – Nova fronteira – 2016.
CUNHA, Jurema Alcides – Psicodiagnóstico V – 2000
HANS DIECKMAN, Berlim (Revista de Psicologia Analítica – Vol III, nº 1 – Março 1972) – trad. Denise Mathias e João Bezinelli




A ESCOLA DA VIDA NA VISÃO DE CARL GUSTAV JUNG




Todos nós em algum momento da nossa jornada já ouvimos a seguinte frase:
- A vida é uma escola!
Na escola da vida aprendemos diariamente com os acontecimentos, nos alegramos com os momentos felizes, nos entristecemos e nos desanimamos nos momentos de infelicidade e também temos a opção de escolha diante dos caminhos que nos são propostos pela própria vida. Dizemos que a vida é um eterno aprendizado, assim como cantamos na maravilhosa canção “O que é o que é?” do nosso querido e saudoso Gonzaguinha:

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.”

Neste artigo, quero compartilhar com o caro leitor alguns caminhos percorridos por Carl Gustav Jung (1875-1961) que nos fazem refletir sobre todo o aprendizado que a escola da vida nos proporciona e o quanto este processo de aprendizagem é extremamente importante para a nossa evolução individual.
A escola de Jung foi a própria vida que ele mesmo vivenciou. Sua vida foi sempre direcionada para um único sentido: o diálogo e a realização do inconsciente humano.



Carl Gustav Jung nos revela isso em uma de suas frases mais celébres e verdadeiras:

“Minha vida é a história de um Inconsciente que se realizou”
 (Jung, Memórias, sonhos e Reflexões.1986 p. 19)










Tal evolução transcende as barreiras de todo estudo baseado somente em teorias, pois a evolução individual também exige vivência e experiência.
Para se viver a vida no sentido Junguiano, não basta cumprir semestres de cursos, estudar os textos, ler os mais variados livros, empenhar-se nos mais variados trabalhos acadêmicos para se obter as melhores notas. Para vivermos uma vida Junguiana é preciso desenvolver a capacidade de olhar para dentro e para fora de si mesmo. Tal posição de Jung não significa que não devemos estudar, pelo contrário, o que ele nos afirma é que o estudo deve sempre ser equilibrado com uma boa dose de vivência. Teoria e Vivência caminham juntas.
Jung não se preocupou em dar respostas às mais variadas perguntas sobre a existência humana. Ele nos propõe que precisamos seguir um caminho próprio, único, diferenciado. Portanto, este caminho é individual e reservado para cada pessoa.
A obra desenvolvida por Jung não se trata de um roteiro e muito menos de uma conclusão. Não existe um modelo a ser seguido, não há receitas. A solução consiste no processo de Individuação. É preciso olhar para si mesmo e para tudo o que se apresenta.
Carl Gustav Jung fez da sua vida um constante aprendizado. A vida na visão Junguiana é profunda, complexa e completa. Trata-se de um desenvolvimento e aprendizagem que se originam através de nossas experiências. Isso nos faz ser Junguianos.
Na realidade, quem pode ser considerado Junguiano senão o próprio Jung ou alguém indiretamente escolhido por ele? Não somos nós que escolhemos a Psicologia Analítica. Ela é que nos escolhe, pois trata-se de uma forma de vida plena e apaixonante.
Temos como exemplo, a Drª Nise da Silveira que estudou Jung a fundo, se inspirando não apenas em sua teoria, mas sim, na maneira profunda de enxergar a si mesmo e o outro.



Somente uma pessoa como Nise da Silveira poderia perseguir o caminho da individuação e ter a brilhante capacidade de criar “ a emoção de lidar” com a escola da vida.
Vamos seguir o exemplo de Jung e Nise, mas não no sentido de sermos grandes e famosos teóricos da mente humana, mas sim no sentido da emoção, da vivência e do aprendizado que a vida nos proporciona.
Encontre seu caminho, busque sempre pelo equilíbrio.
Faça terapia!

(Evandro Rodrigo Tropéia)

O EGO E SUA IMPORTÂNCIA CONTRIBUIÇÃO PARA O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO




Caro Leitor, neste breve artigo vamos partilhar um pouco sobre este importante conceito analítico desenvolvido por Carl Gustav Jung (1875-1961).
Segundo Carl Gustav Jung (2009), o Ego consiste na estrutura organizacional da Consciência, no qual sua função primordial nos remete a composição das percepções conscientes, das recordações, dos pensamentos e dos sentimentos.
De acordo com Hall e Norbdy (1980), apesar de ocupar uma parte muito pequena da totalidade da psique, ele é dotado de uma função básica e fundamental. O Ego é altamente seletivo. Cabe a ele realizar a importante tarefa de fornecer à personalidade elementos de identidade e continuidade através do processo de seleção.
Para Jung (2009), através do Ego podemos sentir hoje que somos a mesma pessoa que ontem.
Segundo Hall e Norbdy (1980) assim como na consciência, o Processo de Individuação também atua intimamente ligada ao Ego, no intuito de proporcionar por meio dessa união, o desenvolvimento de uma personalidade distinta e persistente (JUNG, 2016).
Conforme o pensamento proposto por Carl Gustav Jung, o ser humano só poderá individualizar-se na medida em que o Ego for permitindo que as experiências recebidas se tornem parte da Consciência.


Um exemplo bem comum desse processo nos remete ao caso de que se uma pessoa é do tipo sensitivo, o Ego permitirá que chegue à parte Consciente da mente um número maior de experiências ligadas às emoções / sentimentos. Se o indivíduo for do tipo pensativo; os pensamentos (Racionalidade) chegarão à Consciência com maior facilidade. Neste caso, a racionalização se destaca e supera as emoções (HALL; NORBDY, 1980).
Jung nos aponta que o Ego de uma pessoa altamente Individuada permite que um maior número de elementos psíquicos se torne consciente, gerando assim um equilíbrio fundamental em sua estrutura.
Segundo Carl Gustav Jung, o Ego consiste numa parte constituinte da mente humana, como um processo funcional composto por tudo aquilo que nós vemos, convivemos e podemos perceber. O Ego para Jung é muito mais do que o simples “eu”, é um apanhado de recordações, emoções, sentimentos e ideias que posicionam nosso comportamento e nos tornam conscientes.
Carl Gustav Jung leva em consideração que a personalidade é composta pela união do ego com o “self”, que seria uma parte “suprema” do indivíduo responsável por mover o ego e sua consciência, este, encarregado de desvendar e interpretar o que parece inconsciente e desconhecido.
O principal objetivo de toda Personalidade, seja ela qual for, é chegar à auto-realização e conhecimento do próprio Self.
A busca pelo autoconhecimento é o único caminho para tal realização. Esta é a tarefa mais difícil que o homem pode encontrar durante toda a sua existência. Tarefa esta que exige demasiado esforço, disciplina constante e muita sabedoria aliada à intensa responsabilidade.
O Self tem a capacidade de ser o regulador e o governante de nossa personalidade. Através do desenvolvimento desse arquétipo, o homem fica motivado e impulsionado a uma ampliação da consciência e começa a perceber o rumo de sua própria vida (JUNG, 2016).





“O Self é a meta da nossa existência, por ser ele a mais completa expressão da combinação a que estamos fadados e que denominamos individualidade.”(Carl Gustav Jung)





De acordo com a teoria elaborada por Jung, o homem só poderá viver em harmonia com a própria natureza a partir do momento em que tornar consciente aquilo que é inconsciente.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

HALL C.S. e NORDBY V. J. Introdução à Psicologia Junguiana, São Paulo, Cultrix, 1980.

JUNG, C. G.  A Natureza da Psique. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2016.