sábado, 14 de novembro de 2015

O Homem em Chamas

Em meu processo terapêutico, surgiu em minha mente um breve lampejo de memória e acabei relatando para a minha terapeuta.
Relatei um sonho que tive em uma determinada noite. Certamente não me recordo se aquilo foi um sonho ou apenas um fator inconsciente emergido naquele momento.
Neste sonho me deparei com a seguinte imagem, levemente distorcida:
Estava sentado numa cadeira de alpendre de uma casa simples na beira da estrada. Me recordo que estava calmo, sereno e completamente isolado, tomando lentamente um copo de água.
De repente, surge no meio da estrada um homem com o corpo totalmente envolto em chamas clamando por socorro de maneira completamente inusitada, gritando desesperadamente.
 O homem sentado observava toda quela cena com um ar de desprezo, achando tudo aquilo um grande absurdo:
- Onde já se viu! Pra quê tanto desespero? Basta tomar um pouco de água!
Enquanto isso, o homem em chamas continuava correndo de maneira dolorosa e angustiante.

Minha primeira interpretação diante do fato relatado, foi certamente pautada nas bases do "censo comum". Me atentei a dizer para a terapeuta que aquele homem pegando fogo simbolizava tudo o que há de mal e sombrio que estava se aproximando de  mim e que ele estava aparecendo para me tirar a paz. Afinal, desesperos e angústias são coisas "malignas".

No entanto, minha terapeuta, me direcionou para uma outra forma de análise sobre o intrigante sonho: O Homem em chamas  sou eu mesmo, clamando por socorro dentro de mim.
- "Quero sair! Quero viver! Tire-me daqui!"

Percebi naquele momento que tinha alguém pegando fogo dentro de mim e eu estava sufocando aquele clamor dentro do meu próprio eu. Alguém querendo gritar, aparecer e viver. Neste dia compreendi que estava faltando respeito para com a minha totalidade em questão.

Alimentei somente o Evandro calmo, tranquilo, que não briga, não chora, não clama, apenas aceita tudo e diz amém. Esqueci completamente daquele homem que carrega dentro de si desejos, anseios, dúvidas, medos, paixões, pulsões, emoções, lágrimas e sangue.

Este sonho me fez retornar a caminhada de forma muito mais madura e equilibrada, pois a prática do equilíbrio é principal fundamento para a estrada da individuação.

(Evandro Rodrigo)