sexta-feira, 19 de junho de 2015

CONSEQUENCIAS DE UMA RELIGIOSIDADE PAUTADA NO DESEQUILÍBRIO



Segundo Jung, tal como a energia física, a energia psíquica também é encaminhada e transformada, isto é, a energia psíquica é canalizada para algo pelo qual damos um intenso valor, como por exemplo, as pessoas que amamos e fazem parte de nossas vidas, nossos trabalhos, nossos lazeres, bem como as doutrinas que são aprendidas e vivenciadas dentro de uma instituição religiosa.
Para Jung este valor nos remete a medida da quantidade de energia consagrada a um elemento psíquico particular. Portanto, através de uma má canalização energética surge o desequilíbrio, desencadeando assim, problemas de intensa gravidade psíquica e religiosa, tais como a intolerância religiosa entre denominações espirituais e também com os demais grupos sociais, o valor unilateral que gera uma espécie de egoísmo salvífico, ou seja, ouvimos expressões do tipo: “Somente minha religião nos garante a salvação!”
Estas consequências afetam de maneira considerável, o ser humano em todos os contextos dimensionais, principalmente no desenvolvimento moral e social, pois o desequilíbrio oriundo de uma má canalização energética quebra por si só toda forma de moralidade e como consequência surge o comprometimento imediato do desenvolvimento do ser humano enquanto ser social.
A religião desequilibrada tem um intenso poder prejudicial na vida de qualquer pessoa, pois quando não há uma boa dosagem de equilíbrio, a mente humana se perde em um imenso vale obscuro, gerando assim uma espécie de venda, que chamamos em termos religiosos de “cegueira espiritual”, criando na vida humana barreiras ocultas que vão crescendo à medida que o desequilíbrio aumenta sua intensidade.
Esta barreira , segundo Jung, toda unilateralidade impede o desenvolvimento pessoal, social e moral da psique humana, pois a mente neste estado passa por um momento de sequestro do eu.
Dentro do que chamamos aqui de sequestro do eu, o objeto amado, no caso, a religião toma a posição do sequestrador que tem o domínio e o controle total da situação no cativeiro simbólico, enquanto que, o sequestrado é o ego fragilizado, debilitado em sua totalidade por conta dessa perda extremamente dolorosa da liberdade.
É a doentia relação existente entre Dominador e Dominado, onde o “outro” mantém o controle total do funcionamento psíquico do ego completamente empobrecido.
Ao se afastar de sua subjetividade e tudo o que ela representa, o sujeito sente-se excluído e privado de ser ele mesmo e passa a viver categoricamente em função do objeto amado.
O sequestro da subjetividade humana, que se origina da religião desequilibrada é comparado a um cárcere. Existem cárceres que vão muito mais além de paredes e celas. São prisões que não são concretas, são invisíveis aos olhos humanos e, portanto não há nada concretamente a ser quebrado.
Este sequestro consiste em tudo aquilo que nos priva de nós mesmos, onde corremos o extremo risco de abrir mão de nossos próprios valores e projetamos toda nossa disposição e totalidade de ser pessoa no “outro”.


(TROPÉIA, 2015)




CONTRIBUIÇÕES DA ESPIRITUALIDADE NO CONTEXTO DO AUTOCONHECIMENTO



Uma das grandes contribuições da espiritualidade na vida humana nos remete ao processo de autoconhecimento.  Processo pelo qual se desenvolve a busca pelo equilíbrio de si mesmo, que implica em conhecer e dominar o próprio “eu” em toda a sua totalidade para a externalização do conhecimento referente ao “outro”.
Carl Gustav Jung define Jesus Cristo como o maior e mais claro exemplo de individuação e alcance pleno de sua totalidade, pois sua força exalava sensibilidade, suas palavras de autoridade ressoavam ensinamentos de amor, acolhimento e compaixão.
Cristo carrega em si na sua intensa totalidade uma bela capacidade de conhecimento de si mesmo, a ponto de externalizar a complexa atividade de compreender a todos que o procuravam.
Um de seus maiores ensinamentos nos diz:
“Amar ao próximo como a ti mesmo.”
Este ensinamento nos remete à ideia de que para amar o próximo é necessário primeiramente amar a si mesmo.
A religião é uma importante ferramenta no contexto do autoconhecimento quando esta é pautada com uma boa dose de equilíbrio.
Consequentemente pessoas equilibradamente religiosas desenvolvem-se de maneira saudável em todas as suas dimensões, principalmente no que diz respeito aos aspectos sociais e morais.

(Evandro Rodrigo)