terça-feira, 22 de março de 2016

ALIANÇAS E ALIENAÇÕES NO CONTEXTO DA ESPIRITUALIDADE



A psicanálise de Sigmund Freud e a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung nos ensinam que para um vínculo ser estabelecido com o outro de maneira saudável, dependerá da maneira como se é capaz de relacionar-se consigo mesmo.
A ideia proposta no trabalho presente sobre o estabelecimento de vínculos é o que chamaremos aqui de “Alianças e Alienações”.
A Aliança encontra-se na dimensão do acordo firmado entre duas ou mais partes. Este vínculo tem como objetivo primordial e realização de fins que coincidem para o bem comum.
A priori, a aliança acontece pela identificação que ocorre de ambas as partes envolvidas na construção do vínculo. Existe algo no outro que parece coincidir com algo que falta no sujeito. Esse fato ocorre de forma inconsciente, por conta da dificuldade que temos em enxergar com clareza aquilo que nos falta.


            O processo de construção e desenvolvimento de uma verdadeira aliança de vê ocorrer de forma lenta e regada por muita dedicação.
           Por outro lado, a partir de uma fragilidade emocional, o sujeito se percebe submergido numa aliança perversa, a qual denominamos “Alienação”.
Na Alienação espiritual , o sujeito se vê impedido de ser ele mesmo pelo fato de nem ao menos suspeitar de quem ele realmente é.
O indivíduo torna-se incapaz de estabelecer uma confiança a si mesmo, e assim projeta toda sua energia psíquica no outro, o objeto amado. O ego desenvolve uma extrema carência de si mesmo e se coloca em posição de negação.
A verdadeira aliança espiritual é nutrida pela capacidade de se conhecer as partes envolvidas na construção do vínculo.


A Aliança será saudável quando for mantida pelo carinho, dedicação e compreensão de ambas as pessoas, desenvolvendo então, um vínculo afetivo emocional baseado em uma relação de confiança.
A vida humana é uma travessia constante. Vivemos em êxodos contínuos, em processos de deslocamento quase que intermináveis que são conscientes e inconscientes. Enquanto estivermos em vida seremos convidados a estar em movimento o tempo todo e isso nos proporciona a superação de estágios, condições e até mesmo no campo das atitudes.
No entanto, a questão proposta aqui é que essa travessia não é banhada por imenso mar de rosas de ouro e cristais brilhantes, mas quero desenvolver juntamente com os caros leitores a expansão do pensamento de que esse caminho a ser percorrido é um processo doloroso e extremamente complexo.
Nascemos como seres individuais, mas a condição de ser pessoa na sua totalidade é um lugar a ser alcançado. Precisamos, através de nosso processo de desenvolvimento psíquico pessoal, chegar aos dois pilares fundamentais que proponho no presente trabalho:
Ser pessoa no conceito da totalidade no contexto de Mundo Interno e Mundo Externo consiste em “dispor de si” e “dispor-se ao outro”.
O que defino aqui por Sequestro do eu é um acontecimento que fere diretamente o primeiro aspecto do processo que é a disposição para si mesmo.
Na vida humana, estamos constantemente descobrindo a nossa totalidade. Para tal afirmação vamos nos atentar aqui a uma comparação muito interessante que irá contribuir consideravelmente para a expansão da nossa proposta de pensamento:


O mosaico é composto por partes; essas partes se unem em um conjunto e compõem uma única peça. São inúmeros e pequenos significados que juntos formam a totalidade do mosaico.
A pequena peça é fundamental para a construção do todo, e por isso não pode ser separada ou simplesmente descartada. Nós seres humanos, somos desenvolvidos a partir dessa mesma ideia.


Quando o sujeito é sequestrado do seu próprio eu, o primeiro rompimento que se dá é com a materialidade de seus significados. Tudo perde o sentido, nada tem valor com a ausência de seu objeto amado.


quinta-feira, 17 de março de 2016

O EQUILÍBRIO ENTRE A CIÊNCIA E A ESPIRITUALIDADE



É extremamente necessário ressaltar a todo o momento a importância da ciência em variados aspectos e evoluções construtivas e colaborativas para o desenvolvimento da humanidade.
As inúmeras descobertas científicas têm contribuído e muito para o homem no contexto dos seus avanços medicinais, psicológicos, histórico, morais e legislativos, por outro lado, é necessário a busca constante pelo equilíbrio e pela compreensão analítica das evoluções para que não ocorra uma perigosa unilateralidade no caminho do conhecimento de si mesmo e da sociedade de maneira geral.
Carl G. Jung (1875-1961) nos apresenta uma memorável definição sobre os aspectos científicos em sua obra “Estudos Alquímicos” com relação à unilateralidade:

Carl Gustav Jung


“... De fato, a ciência não é um instrumento perfeito, que só causa dano quando é como um fim em si mesmo. A ciência deve servir, ela erra somente quando pretende usurpar o trono.” (JUNG, 1967)





Segundo Jung, a ciência consiste na modalidade de compreensão, ou seja, ela é uma via de condução do conhecimento humano e só obscurece a vista quando reivindica para si o privilégio de ser a única forma de compreender todas as coisas, ocasionando assim o pensamento unilateral, isto é, uma via de mão única.
Assim, também a religião não deve ser uma via de mão única no que diz respeito ao desenvolvimento moral de cada ser humano. A partir do pensamento de Jung, podemos observar que toda prática religiosa conduzida de forma unilateral pela pessoa, gera em si um intenso desequilíbrio que se origina de canalização de energia mal elaborada.
A princípio a ideia de Ciência e Espiritualidade nos propõe um pensamento de extrema oposição, onde uma não completaria a outra de forma alguma, por conta de inúmeras divergências. Essa concepção de forte oposição cai por terra explicitamente a partir dos estudos de Jung, que se apoiou nos elementos da alquimia para a elaboração de muitos dos seus conceitos.
Sobre as questões dos opostos e das barbáries negativas da unilateralidade, o autor nos mostra um importante apontamento:

 

“... Os opostos se equilibram na mesma balança – Sinal de Cultura. Ainda que representem uma força propulsora, a unilateralidade é sinal de barbárie.” (JUNG, 1967)




A Ciência e a Espiritualidade, mesmo sendo concepções opostas devem caminhar juntas na busca de uma compreensão mais ampla desse universo misterioso e extremamente complexo chamado ser humano.
A partir de um processo analítico contundente elaborado pelo próprio Jung percebemos que inúmeros tratamentos obtiveram sucesso mediante a junção entre os avanços da Ciência, em especial a medicina, e os mistérios da prática de uma espiritualidade.
Não se pode fechar os olhos para este aspecto e as contribuições positivas que esta referida união vem proporcionando à vida de muitas pessoas independentemente da fé que elas professam.



Através da espiritualidade e seus princípios, o ser humano alcança um nível elevado de autoconhecimento e adquire uma postura equilibrada diante das adversidades da vida, tais como as enfermidades físicas, as angústias psicóticas, os medos, os anseios, as paixões e os desejos presentes nos conteúdos inconscientes da psique.
Quando o indivíduo constrói um vínculo saudável com a religião é possível chegar ao conhecimento de si mesmo e assim, elaborar seus conflitos ao deparar-se com a própria sombra e descobrir a divindade existente dentro de si que consiste no processo de “espiritualização do eu”.
Segundo Carl G Jung, o intelecto apenas prejudica a alma quando tem a pretensão de usurpar a espiritualidade. A espiritualidade representa algo maior do que o aspecto intelectual. O Espírito consiste em uma direção e um princípio de vida que aspira alturas luminosas e sobre humanas.




(Evandro Rodrigo Tropéia)

Referências Bibliográficas:

JUNG, C. G. Psicologia e Religião. Obras completas de C. G. Jung, v. 11/1. Vozes, Petrópolis, 1978.

JUNG , C.G., 2003, Estudos Alquímicos, Petrópolis: Vozes, 1990.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O PAPEL DOS PAIS NO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO


Assim como o corpo necessita de alimento para crescer e se sustentar, a Personalidade também necessita de experiências adequadas para individuar-se.

Carl Gustav Jung

O Processo de Individuação proposto por Carl Gustav Jung (1875-1961) consiste no indivíduo que inicia a sua vida numa espécie de totalidade indiferenciada. Bem como uma semente que cresce e se transforma numa bela árvore, o ser humano se desenvolve para chegar à sua totalidade, ou seja, a personalidade Plena.




O sujeito começa como uma simples estrutura e vai se transformando numa estrutura complexa, assim como uma larva se desenvolve e se transforma numa Borboleta.
Segundo Jung, a Psicoterapia é um Processo de Individuação.




Neste artigo, desejo compartilhar com os caros leitores o importante papel dos pais no processo de Desenvolvimento da criança e no caminho da Individuação da mesma.
Primeiramente, podemos afirmar que nos primeiros anos de vida a criança não possui uma identidade própria. Tal fato nos remete a concluir que a psique da criança é o reflexo dos pais, principalmente da mãe.
A mãe é o primeiro elo do ser humano com o mundo.


O Nascimento em si, gera no bebê sua primeira experiência extremamente assustadora, onde a criança sai de um mundo totalmente acolhedor e caloroso do ventre da mãe e migra para um mundo completamente caótico e inseguro.
O colo acolhedor da mãe é para o bebê um conforto, um abrigo seguro e um espelho no qual ele é refletido e percebe então a sua própria existência.
 
D.W. Winnicott

"O primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe: A sua expressão, o seu olhar, a sua voz.[...] 
É como se o bebe pensasse: Olho e sou visto, logo, existo!"
(D. W. Winnicott)






Uma criança quando não é desejada e passa a ser rejeitada, não conhece o amor e a cooperação no seio familiar. Não sentem confiança em suas habilidades e não se sentem dignas de receber amor e afeto dos outros, pois não tiveram as condições mínimas necessárias para isso. 
Quando adultos podem se tornar frios, duros ou extremamente carentes e dependentes da aprovação e do reconhecimento das outras pessoas.


A Psique infantil a priori, está sujeita a refletir todos os distúrbios psicológicos dos pais. Como conseqüência, a psicoterapia dos filhos consiste em realizar a análise dos pais.
Quando a criança inicia a sua vida escolar, sua identificação com os pais vai diminuindo, passando a desenvolver aos poucos sua própria individualidade.
Não se pode deixar de mencionar o perigo existente no fato de que muitos pais continuam a exercem extremo domínio sobre o filho com excesso de super proteção, tomando decisões por ele e assim, impedindo que a criança tenha uma ampliação de suas experiências. Caso isso ocorra, a individuação dessa personalidade também ficará altamente prejudicada.


O mesmo perigo poderá ocorrer quando um dos pais, ou ambos tentarem impor para a criança a sua própria constituição psicológica, ou se um dos dois procurar compensar as suas fraquezas psíquicas, encorajando o filho a desenvolver na sua personalidade individual aquilo que na verdade é desejo dos pais.

Por exemplo: Pais introvertidos querem que os filhos sejam como eles, ou também pais introvertidos que desejam que seus filhos sejam o oposto. Em qualquer um dos casos, a criança ficará prejudicada e sofrerá desequilíbrio.

Anima e Animus
A função Materna é diferenciada com relação à função Paterna. A relação do menino com a mãe indicará de que maneira a sua Anima (parte feminina na psique masculina) vai se desenvolver, enquanto que a relação com pai determinará o desenvolvimento da Sombra. Com uma menina acontece o oposto. A relação da menina com o pai indicará de que maneira seu Animus (parte masculina na psique feminina) vai se desenvolver, enquanto que a relação com a mãe determinará o desenvolvimento da Sombra.

No entanto, tanto o pai como a mãe contribuem consideravelmente para a formação da Persona da criança.






(Evandro Rodrigo Tropéia)

Referências Bibliográficas:
 HALL, C.S; Nordby, V.J. Introdução à Psicologia Junguiana. Ed. Cultrix, SP, 2003.



sábado, 12 de março de 2016

CARL GUSTAV JUNG - FACE A FACE


Não poderia deixar de compartilhar neste blog o vídeo que fez com que eu ficasse apaixonado pela Psicologia Analítica.

sexta-feira, 11 de março de 2016

O EGO E A SOMBRA



O Arquétipo Sombra consiste no lado obscuro da Psique, onde estão contidos nossos instintos primitivos. É a origem de tudo aquilo que há de melhor e pior na raça humana.


Nyx - A deusa da Noite
Para que o sujeito seja inserido na comunidade, é necessário que ele passe pelo processo de domesticação com relação aos ímpetos contidos na sombra.
Quando a pessoa consegue suprimir o aspecto animal de seu estado natural, ela pode se tornar “civilizada”, mas esta repressão só pode ser executada através das capacidades motivadoras da espontaneidade, da criatividade, das emoções e das intuições.
Podemos afirmar que uma vida privada de sua sombra se transforma numa vida sem brilho. Não há como fugir de sua sombra.
A Sombra é um Arquétipo de muito valor, pois ela detém a capacidade de reter e afirmar idéias ou imagens que trazem vantagens para a vida do indivíduo.


Equilíbrio entre forças
A regência de uma vida saudável gira sempre em torno do equilíbrio. O Ego e a Sombra devem trabalhar em perfeita harmonia. Quando o Ego e a Sombra se harmonizam, a pessoa começa a se sentir cheia de vida e energia para prosseguir em sua caminhada. Assim, o Ego deixa de obstruir a Sombra e passa a canalizá-la. A Consciência se expande trazendo vitalidade à atividade mental.



É possível observarmos que as pessoas criativas são consideradas “esquisitas”. Há certa verdade no relacionamento entre o gênio e a loucura.
O conteúdo da Sombra presente nas pessoas criativas de vez em quando podem se sobressair ao Ego, fazendo com que essas pessoas pareçam num certo momento, insanas.

A Noite Estrelada - Obra de Vincent Van Gogh - Esquizofrenia

Quando o indivíduo traz em si um desequilíbrio, a sombra se aproveita dessa fragilidade. Um grande exemplo que pode ser citado é de um alcoolista compulsivo que com o tempo consegue vencer seu hábito e dominar o vício. A partir do momento em que o mesmo se encontra “curado”, os motivos que desencadearam o vício são forçados a recolher-se para o inconsciente, aguardando uma oportunidade para se expressar. O sujeito então, ao se deparar com uma situação traumática e conflituosa com a qual ele não pode lidar, a Sombra se manifesta com extrema força, originando dessa forma aquilo que denominamos recaída.



A Sombra é dotada de um intenso poder de resistência, pois ela nunca é vencida. No entanto, essa persistência é eficaz, tanto para a promoção do mal quanto para o bem.

Segundo o pensamento de Carl G. Jung (1875 -1961), dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos.
Todos os seres humanos tem seu lado obscuro. Se tudo correr bem é melhor nem conhecer.
Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real é o próprio homem.
A partir desse pensamento quero propor aqui o  raciocínio de que a vida é um ciclo de energia onde eu mesmo sou o equilíbrio entre o medo e a coragem, a pergunta e a resposta, a alegria e a tristeza, a luz e a sombra. Somente pelo equilíbrio entre as grandes extremidades será possível compreender a Fé e a Razão.
Equilíbrio é saber até onde posso chegar e até onde vai o meu limite. Equilibrar-se implica em autoconhecimento.
Torna-se expressamente impossível alcançar o ponto de equilíbrio sem passar pela estrada do conhecimento de si mesmo.



O homem planeja, estuda e arquiteta planos mirabolantes para combater o seu inimigo, porém é quase incapaz de elaborar uma estratégia para conhecer a si mesmo.
É preciso compreender a máxima expressão de que o meu maior inimigo sou eu mesmo.

Tudo depende do Equilíbrio!

 
Nyx - Sombra



Encontre seu caminho, busque sempre pelo equilíbrio.
Faça terapia!

(Evandro Rodrigo Tropéia)

Referências Bibliográficas:
 HALL, C.S; Nordby, V.J. Introdução à Psicologia Junguiana. Ed. Cultrix, SP, 2003.