Na Psicologia Analítica elaborada por Carl Gustav Jung (2013), o conceito de complexo refere-se a um conjunto de ideias, sentimentos e memórias carregadas de afeto, organizadas em torno de um tema central. Um dos mais influentes e universais é o complexo paterno, que representa a forma como o pai – real ou simbólico – se inscreve na psique de cada indivíduo.
Mais do que a figura biológica, o pai simboliza uma função estruturante e orientadora na vida psicológica. Assim, o complexo paterno pode se manifestar de formas variadas, tanto positivas quanto negativas, influenciando profundamente a personalidade, os relacionamentos, a espiritualidade e até mesmo o senso de identidade.
De acordo com Jung (2013), o pai
representa o princípio da autoridade, da lei, do logos, ou seja, do pensamento
racional, das regras e da estrutura. Enquanto a mãe está associada ao útero
psíquico, à origem da vida e à função nutridora (anima), o pai é o símbolo da
separação, do mundo externo, da consciência e da razão.
O complexo paterno pode surgir de maneira
positiva ou negativa, dependendo da relação com a figura paterna e das
experiências subjetivas vividas com ela.
·
Complexo Paterno Positivo:
O pai é visto como protetor, justo, sábio e inspirador.
Estimula o crescimento, o desenvolvimento intelectual, a autoconfiança e o senso de direção.
O indivíduo consegue integrar com
equilíbrio a razão, a disciplina e o senso de responsabilidade.
· Complexo Paterno Negativo:
O pai é percebido como ausente, autoritário, frio, crítico ou opressor.
Pode gerar insegurança, dificuldade de afirmação, medo de autoridade ou, ao contrário, rebeldia excessiva.
A pessoa pode projetar esse conflito em figuras de poder (chefes, líderes, parceiros) ou na espiritualidade (Deus-pai).
Na infância, o complexo paterno molda o desenvolvimento da personalidade. Na adolescência, pode surgir em forma de rebelião ou idealização. Na fase adulta, ele influencia as escolhas profissionais, a relação com a autoridade, a espiritualidade e até mesmo o exercício da paternidade.
O complexo paterno, em sua profundidade, revela não apenas a influência do pai biológico, mas de todas as figuras de autoridade, ordem e estrutura que encontramos ao longo da vida. Integrar esse complexo de forma consciente e equilibrada é um passo essencial para o amadurecimento psicológico e espiritual.
Como nos ensina Jung, “aquilo que não
enfrentamos no inconsciente se manifesta em nossa vida como destino”. Por isso,
olhar para o pai interior — com todas as suas luzes e sombras — é um ato de
coragem e libertação.
Evandro Rodrigo Tropéia /
Instituto Freedom
CRP: 06/143949
Referências
bibliográficas:
JUNG, C. G. Tipos Psicológicos.
Petrópolis: Vozes, 2013.
JUNG, C. G. Símbolos da Transformação.
Petrópolis: Vozes, 2014.
JUNG, C. G. Aion: Estudos sobre o
Simbolismo do Si-mesmo. Petrópolis: Vozes, 2011.
JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
SAMUELS, Andrew. Jung e os Pós-Junguianos.
Petrópolis: Vozes, 1989.
STEIN, Murray. Jung: O Mapa da Alma. São
Paulo: Cultrix, 1998.
HENDERSON, Joseph L. Os mitos antigos e o
homem moderno. In: JUNG, C. G. et al. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2008. p. 91-157.
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