Elias
caminhava por entre árvores altas, quando a noite caiu sobre sua alma.
Sentia-se observado, mas não havia ninguém. Apenas o sussurro das folhas e o peso de um silêncio antigo.
No
coração da mata, encontrou um espelho.
Velho,
manchado pelo tempo, repousava encostado em uma árvore.
Movido pela curiosidade, aproximou-se.
No reflexo, não viu apenas a si mesmo.
Atrás
dele, surgia uma figura escura, com olhos intensos como brasas escondidas.
Era
sua sombra — feita de medos, culpas, raivas e desejos não ditos.
Assustado,
Elias recuou.
Mas
a sombra não partia. Seguia seus passos, como uma presença inevitável.
Quanto
mais ele corria, mais ela o acompanhava.
Exausto,
voltou-se para o espelho.
E,
pela primeira vez, ousou ouvir.
A
sombra sussurrou:
— “Não sou teu inimigo. Sou a parte que escondes, o que negas e temes. Mas também sou tua força esquecida, tua coragem adormecida. Aceita-me… e serás inteiro.”
Elias
respirou fundo.
Estendeu
a mão.
Ao
tocar o espelho, luz e escuridão se fundiram.
E
ele acordou — não mais dividido, mas pleno.
Porque
compreender a sombra é aprender que dentro da noite também florescem estrelas.
Reflexão:
a sombra, em Jung, não é aquilo que devemos eliminar, mas integrar. Ela contém
não só nossos impulsos reprimidos, mas também potenciais adormecidos. Negá-la
nos fragmenta; acolhê-la nos fortalece.
Evandro Rodrigo Tropéia
Psicólogo
clínico
CRP: 06/143949
Nenhum comentário:
Postar um comentário