quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O ESPELHO DA FLORESTA

 

 


Elias caminhava por entre árvores altas, quando a noite caiu sobre sua alma.

Sentia-se observado, mas não havia ninguém. Apenas o sussurro das folhas e o peso de um silêncio antigo.

No coração da mata, encontrou um espelho.

Velho, manchado pelo tempo, repousava encostado em uma árvore.

Movido pela curiosidade, aproximou-se.

No reflexo, não viu apenas a si mesmo.

Atrás dele, surgia uma figura escura, com olhos intensos como brasas escondidas.

Era sua sombra — feita de medos, culpas, raivas e desejos não ditos.

 

Assustado, Elias recuou.

Mas a sombra não partia. Seguia seus passos, como uma presença inevitável.

Quanto mais ele corria, mais ela o acompanhava.

 

Exausto, voltou-se para o espelho.

E, pela primeira vez, ousou ouvir.

 

A sombra sussurrou:

— “Não sou teu inimigo. Sou a parte que escondes, o que negas e temes. Mas também sou tua força esquecida, tua coragem adormecida. Aceita-me… e serás inteiro.”

 

Elias respirou fundo.

Estendeu a mão.

Ao tocar o espelho, luz e escuridão se fundiram.

E ele acordou — não mais dividido, mas pleno.

 

Porque compreender a sombra é aprender que dentro da noite também florescem estrelas.




 

Reflexão: a sombra, em Jung, não é aquilo que devemos eliminar, mas integrar. Ela contém não só nossos impulsos reprimidos, mas também potenciais adormecidos. Negá-la nos fragmenta; acolhê-la nos fortalece.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia

 Psicólogo clínico

CRP: 06/143949

 




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