quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O SUICÍDIO NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C. G. JUNG

 



O suicídio é um fenômeno complexo que atravessa aspectos biológicos, sociais e psíquicos. Na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, o ato suicida pode ser compreendido como expressão de conflitos inconscientes não integrados, especialmente da sombra. Este artigo analisa o suicídio na perspectiva junguiana, destacando a importância da individuação e do reconhecimento dos conteúdos psíquicos reprimidos como caminhos para a prevenção e o cuidado clínico.

A Psicologia Analítica, proposta por Carl Gustav Jung, oferece um olhar singular sobre o suicídio, integrando aspectos clínicos e simbólicos. Jung (2013) entende a psique como uma totalidade estruturada pelo consciente, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo, de modo que o comportamento suicida pode ser visto como manifestação de forças psíquicas que não foram reconhecidas e integradas pela consciência.

O Suicídio e a Sombra

Um dos conceitos centrais da Psicologia Analítica é a sombra, que corresponde a conteúdos reprimidos ou não aceitos da personalidade. Para Jung (2011), quando a sombra não é confrontada, seus aspectos negativos tendem a se manifestar de forma autônoma, podendo levar a comportamentos autodestrutivos.

O suicídio, nesse sentido, não é apenas fuga do sofrimento externo, mas pode expressar a dificuldade do indivíduo em integrar sua sombra, resultando em desespero e perda de sentido diante da vida.

A Individuação e o Sentido do Sofrimento

Jung (2000) define a individuação como o processo de integração da psique em direção à totalidade. Quando esse processo é interrompido, seja por traumas, crises ou repressões, o ego pode fragilizar-se a ponto de não sustentar o peso das exigências do inconsciente.


O sofrimento, contudo, não deve ser interpretado apenas como algo negativo. Para Jung (2014), a dor psíquica possui uma função simbólica e transformadora: quando acolhida e elaborada, abre caminho para a construção de sentido e para a continuidade do processo de individuação.



Implicações Clínicas e Preventivas

O trabalho clínico, sob a ótica junguiana, consiste em acolher o sofrimento e auxiliar o paciente a integrar os conteúdos inconscientes. A análise dos sonhos, a amplificação simbólica e o diálogo com a sombra são ferramentas fundamentais (Jung, 2011).

A prevenção do suicídio, portanto, não se limita à eliminação de sintomas, mas exige a construção de sentido e a reconciliação do indivíduo com sua totalidade psíquica. Esse olhar amplia a compreensão do suicídio, considerando-o também como um fenômeno existencial e simbólico.

 


 

Conclusão

 

A Psicologia Analítica de Jung contribui para uma compreensão profunda do suicídio, ao interpretá-lo como manifestação de conflitos inconscientes e de um processo de individuação interrompido. A sombra, quando não reconhecida, pode levar a comportamentos autodestrutivos; entretanto, ao ser integrada, abre caminho para uma vida mais plena.

Assim, o pensamento junguiano oferece à clínica e à prevenção do suicídio uma abordagem que valoriza o sentido, a transformação e a dignidade da existência humana.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia

Psicólogo Clínico

CRP: 06/143949

 

Referências

 

JUNG, C. G. Memórias, sonhos, reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

JUNG, C. G. Aion: Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmo. Petrópolis: Vozes, 2011.

JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2013.

JUNG, C. G. A vida simbólica. Petrópolis: Vozes, 2014.

 


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