terça-feira, 21 de outubro de 2025

A Grande Mãe Ferida

 



Na tradição junguiana, o arquétipo da Grande Mãe representa o princípio da vida, o ventre que acolhe, nutre e sustenta a existência. É a matriz original, fonte de proteção e de sentido, que tanto alimenta o corpo quanto dá forma à alma.


Entretanto, quando esse arquétipo se apresenta em sua dimensão ferida ou sombria, surgem experiências de abandono, violência, negligência ou fragilidade materna. A mãe que deveria oferecer o seio nutritivo pode se tornar inacessível; o colo protetor pode estar ausente; a força vital pode se revelar como ameaça ou vazio.


No inconsciente, essa ferida arquetípica deixa marcas profundas:


* o sentimento de insegurança básica,

* a dificuldade de confiar,

* o medo de ser rejeitado,

* e a vivência de um mundo hostil, em que a vida parece nascer sob risco e desamparo.

Contudo, na perspectiva junguiana, a ferida não é apenas destrutiva. Ela pode se tornar um chamado ao processo de individuação. O contato com a Grande Mãe ferida convida o indivíduo a buscar, em si mesmo, a matriz nutritiva que lhe faltou no mundo externo. É como se o Self oferecesse ao ego a possibilidade de encontrar, no silêncio interior, uma Mãe simbólica capaz de restaurar a confiança e gerar vida nova.


Assim, a ferida materna pode ser compreendida como um rito de passagem arquetípico: aquele que foi privado do cuidado primordial é desafiado a construir, ao longo da vida, um cuidado consciente, aprendendo a ser para si e para os outros o que não recebeu. Nesse movimento, a dor se transmuta em compaixão, e a ausência em potência criadora.


O arquétipo da Grande Mãe ferida, portanto, nos lembra que a vida humana nasce não apenas da plenitude, mas também da falta. E que, ao integrar a sombra materna, podemos reencontrar o caminho de volta à fonte, transformando o sofrimento herdado em possibilidade de cura e renovação.


Evandro Rodrigo Tropéia

CRP: 06/143949


quinta-feira, 11 de setembro de 2025

O que a vida espera de mim?

 



Muitas vezes caminhamos perguntando à vida o que podemos receber dela: felicidade, amor, conquistas, paz. Mas, quando o silêncio se faz, surge uma questão que inverte a lógica e toca o mais íntimo do nosso ser: O que a vida espera de mim?

Talvez a vida não espere grandes feitos, mas autenticidade. Não espere que sejamos perfeitos, mas inteiros. Que não fujamos da dor, mas aprendamos com ela. Que não nos percamos na pressa, mas saibamos habitar o instante presente.

A vida espera de mim coragem para dizer sim ao chamado do meu coração, mesmo quando o medo grita não. Espera compaixão para com aqueles que encontro no caminho, e paciência com minhas próprias sombras. Espera que eu floresça onde fui plantado, sem invejar o jardim do vizinho, mas cuidando com amor da terra que me sustenta.

O que a vida espera de mim não é que eu a compreenda em sua totalidade, mas que eu a viva com profundidade. Que, ao final, possa olhar para trás e perceber que deixei rastros de bondade, de beleza e de verdade.

Talvez a vida não queira respostas prontas. Ela apenas espera que eu viva a pergunta — e, vivendo-a, descubra quem eu sou.


(Evandro Rodrigo Tropéia)

O SUICÍDIO NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C. G. JUNG

 



O suicídio é um fenômeno complexo que atravessa aspectos biológicos, sociais e psíquicos. Na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, o ato suicida pode ser compreendido como expressão de conflitos inconscientes não integrados, especialmente da sombra. Este artigo analisa o suicídio na perspectiva junguiana, destacando a importância da individuação e do reconhecimento dos conteúdos psíquicos reprimidos como caminhos para a prevenção e o cuidado clínico.

A Psicologia Analítica, proposta por Carl Gustav Jung, oferece um olhar singular sobre o suicídio, integrando aspectos clínicos e simbólicos. Jung (2013) entende a psique como uma totalidade estruturada pelo consciente, inconsciente pessoal e inconsciente coletivo, de modo que o comportamento suicida pode ser visto como manifestação de forças psíquicas que não foram reconhecidas e integradas pela consciência.

O Suicídio e a Sombra

Um dos conceitos centrais da Psicologia Analítica é a sombra, que corresponde a conteúdos reprimidos ou não aceitos da personalidade. Para Jung (2011), quando a sombra não é confrontada, seus aspectos negativos tendem a se manifestar de forma autônoma, podendo levar a comportamentos autodestrutivos.

O suicídio, nesse sentido, não é apenas fuga do sofrimento externo, mas pode expressar a dificuldade do indivíduo em integrar sua sombra, resultando em desespero e perda de sentido diante da vida.

A Individuação e o Sentido do Sofrimento

Jung (2000) define a individuação como o processo de integração da psique em direção à totalidade. Quando esse processo é interrompido, seja por traumas, crises ou repressões, o ego pode fragilizar-se a ponto de não sustentar o peso das exigências do inconsciente.


O sofrimento, contudo, não deve ser interpretado apenas como algo negativo. Para Jung (2014), a dor psíquica possui uma função simbólica e transformadora: quando acolhida e elaborada, abre caminho para a construção de sentido e para a continuidade do processo de individuação.



Implicações Clínicas e Preventivas

O trabalho clínico, sob a ótica junguiana, consiste em acolher o sofrimento e auxiliar o paciente a integrar os conteúdos inconscientes. A análise dos sonhos, a amplificação simbólica e o diálogo com a sombra são ferramentas fundamentais (Jung, 2011).

A prevenção do suicídio, portanto, não se limita à eliminação de sintomas, mas exige a construção de sentido e a reconciliação do indivíduo com sua totalidade psíquica. Esse olhar amplia a compreensão do suicídio, considerando-o também como um fenômeno existencial e simbólico.

 


 

Conclusão

 

A Psicologia Analítica de Jung contribui para uma compreensão profunda do suicídio, ao interpretá-lo como manifestação de conflitos inconscientes e de um processo de individuação interrompido. A sombra, quando não reconhecida, pode levar a comportamentos autodestrutivos; entretanto, ao ser integrada, abre caminho para uma vida mais plena.

Assim, o pensamento junguiano oferece à clínica e à prevenção do suicídio uma abordagem que valoriza o sentido, a transformação e a dignidade da existência humana.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia

Psicólogo Clínico

CRP: 06/143949

 

Referências

 

JUNG, C. G. Memórias, sonhos, reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

JUNG, C. G. Aion: Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmo. Petrópolis: Vozes, 2011.

JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2013.

JUNG, C. G. A vida simbólica. Petrópolis: Vozes, 2014.

 


domingo, 7 de setembro de 2025

UM OLHAR PROFUNDO SOBRE A INFLUÊNCIA DO PAI NA PSIQUE

 




Na Psicologia Analítica elaborada por Carl Gustav Jung (2013), o conceito de complexo refere-se a um conjunto de ideias, sentimentos e memórias carregadas de afeto, organizadas em torno de um tema central. Um dos mais influentes e universais é o complexo paterno, que representa a forma como o pai – real ou simbólico – se inscreve na psique de cada indivíduo.

 

Mais do que a figura biológica, o pai simboliza uma função estruturante e orientadora na vida psicológica. Assim, o complexo paterno pode se manifestar de formas variadas, tanto positivas quanto negativas, influenciando profundamente a personalidade, os relacionamentos, a espiritualidade e até mesmo o senso de identidade.

De acordo com Jung (2013), o pai representa o princípio da autoridade, da lei, do logos, ou seja, do pensamento racional, das regras e da estrutura. Enquanto a mãe está associada ao útero psíquico, à origem da vida e à função nutridora (anima), o pai é o símbolo da separação, do mundo externo, da consciência e da razão.

 FORMAÇÃO DO COMPLEXO PATERNO



O complexo paterno pode surgir de maneira positiva ou negativa, dependendo da relação com a figura paterna e das experiências subjetivas vividas com ela.

 

·         





Complexo Paterno Positivo:

O pai é visto como protetor, justo, sábio e inspirador.

Estimula o crescimento, o desenvolvimento intelectual, a autoconfiança e o senso de direção.

O indivíduo consegue integrar com equilíbrio a razão, a disciplina e o senso de responsabilidade.

  

·          Complexo Paterno Negativo:

O pai é percebido como ausente, autoritário, frio, crítico ou opressor.

Pode gerar insegurança, dificuldade de afirmação, medo de autoridade ou, ao contrário, rebeldia excessiva.

A pessoa pode projetar esse conflito em figuras de poder (chefes, líderes, parceiros) ou na espiritualidade (Deus-pai).

Na infância, o complexo paterno molda o desenvolvimento da personalidade. Na adolescência, pode surgir em forma de rebelião ou idealização. Na fase adulta, ele influencia as escolhas profissionais, a relação com a autoridade, a espiritualidade e até mesmo o exercício da paternidade.



O complexo paterno, em sua profundidade, revela não apenas a influência do pai biológico, mas de todas as figuras de autoridade, ordem e estrutura que encontramos ao longo da vida. Integrar esse complexo de forma consciente e equilibrada é um passo essencial para o amadurecimento psicológico e espiritual.



Como nos ensina Jung, “aquilo que não enfrentamos no inconsciente se manifesta em nossa vida como destino”. Por isso, olhar para o pai interior — com todas as suas luzes e sombras — é um ato de coragem e libertação.


Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom

CRP: 06/143949

 

 

Referências bibliográficas:

 

JUNG, C. G. Tipos Psicológicos. Petrópolis: Vozes, 2013.

 

JUNG, C. G. Símbolos da Transformação. Petrópolis: Vozes, 2014.

 

JUNG, C. G. Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo. Petrópolis: Vozes, 2011.

 

JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

 

SAMUELS, Andrew. Jung e os Pós-Junguianos. Petrópolis: Vozes, 1989.

 

STEIN, Murray. Jung: O Mapa da Alma. São Paulo: Cultrix, 1998.

 

HENDERSON, Joseph L. Os mitos antigos e o homem moderno. In: JUNG, C. G. et al. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 91-157.

 


O COMPLEXO MATERNO NA VISÃO DA PSICOLOGIA ANALÍTICA JUNGUIANA

 


Na Psicologia Analítica, desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875-1961), os complexos representam essências de conteúdos psíquicos carregados de forte energia emocional, formados em torno de experiências arquetípicas. Dentre eles, o Complexo Materno é um dos mais significativos, pois está diretamente relacionado à vivência primordial do ser humano: a relação com a mãe e, por extensão, com o arquétipo materno.

Para Jung, o arquétipo materno é uma imagem universal que representa o princípio feminino, ligado ao cuidado, à nutrição, à proteção, mas também ao perigo de aprisionamento e sufocamento. Esse arquétipo está presente em mitos, religiões e símbolos coletivos, aparecendo tanto em figuras de deusas benevolentes quanto em imagens de mães terríveis e devoradoras.


Formação do complexo materno




O Complexo Materno se forma a partir da interação entre a experiência real da criança com sua mãe (ou figura materna substituta) e a presença do arquétipo materno no inconsciente coletivo. Assim, cada indivíduo vivencia uma versão única desse complexo, que pode assumir formas positivas ou negativas. 

Aspectos positivos: estímulo à criatividade, à sensibilidade, ao acolhimento e ao desenvolvimento da confiança básica.

Aspectos negativos: dependência excessiva, dificuldade de autonomia, regressão, aprisionamento psíquico e projeções inconscientes sobre mulheres, parceiros ou figuras de autoridade.

A figura materna suficientemente boa carrega em si a capacidade de nutrir o ego, criando assim a capacidade de tolerância e desenvolvimento da personalidade. Quando ocorre a falha no cumprimento deste papel, a figura materna toma uma posição destruidora da psique.

O Complexo Materno bem vivenciado e elaborado é nutridor e libertador.


O Complexo Materno, na visão de Jung, ultrapassa a experiência pessoal com a mãe biológica. Ele é uma expressão do arquétipo materno que habita o inconsciente coletivo, e cuja influência pode ser tanto construtiva quanto limitadora. O desafio do indivíduo é reconhecer essas forças internas, elaborá-las e transformá-las em caminho de crescimento e amadurecimento psíquico.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom

CRP: 06/143949

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Léxico dos Conceitos Junguianos a partir dos originais de Carl Gustav Jung. Organizado por Helmut Hark (2000)

 

Robert, Robin. Guia Prático de Psicologia Junguiana. Um Curso básico sobre os fundamentos básicos da Psicologia Profunda. Ed. Cultrix. 2021.


QUANDO ME ESCUTO

 




Há um instante secreto em que o mundo silencia,

e só a alma fala.

É quando percebo que o sentido não está fora,

mas pulsa no centro do meu ser.

 

Não preciso correr atrás de respostas distantes,

quando a vida inteira se revela

na simplicidade de um respirar profundo,

na beleza de um olhar sincero,

na coragem de permanecer verdadeiro.

 

A vida me convida,

não para ser alguém que os outros esperam,

mas para ser quem eu já sou,

sem máscaras, sem pressa,

inteiro.

 

 

(Evandro Rodrigo Tropéia, Setembro. 2025)

ALMAS GÊMEAS NA PERSPECTIVA JUNGUIANA

 



Introdução

 

A noção de alma gêmea está presente em diversas culturas, mitologias e tradições espirituais, representando a ideia de que existe um ser destinado a completar a existência de outro.

Na psicologia analítica proposta por Carl Gustav Jung (1875-1961), embora o termo “alma gêmea” não seja utilizado de forma literal, é possível compreender o fenômeno por meio dos conceitos de anima e animus, projeção e individuação.

A perspectiva junguiana oferece, assim, uma leitura simbólica e profunda desse arquétipo do encontro entre duas almas.

 

 

O arquétipo da união e o mito da completude




 

Na tradição platônica, expressa no Banquete, Platão descreve que os seres humanos foram originalmente divididos e, desde então, buscam sua outra metade. Esse mito encontra ressonância no inconsciente coletivo, aparecendo em narrativas românticas e na crença contemporânea em almas gêmeas.

Para Jung, tal busca reflete a necessidade psíquica de integração, e não necessariamente a existência literal de um outro ser predestinado.

 

 

Anima e Animus como projeções da alma gêmea

 

Jung conceituou a anima como a imagem do feminino no inconsciente do homem, e o animus como a imagem do masculino no inconsciente da mulher. Esses arquétipos funcionam como mediadores entre o ego e o inconsciente, e geralmente são projetados em figuras externas.

Quando alguém se apaixona intensamente e sente que encontrou sua “alma gêmea”, o que ocorre, em grande parte, é a projeção da anima ou do animus sobre a pessoa amada. Essa experiência gera fascínio, encantamento e a sensação de completude, como se o outro fosse a chave para a realização interior.




 

Amor romântico e o risco da idealização

 

O encontro com a “alma gêmea” frequentemente desperta experiências intensas de paixão, êxtase e sentido de vida. Contudo, Jung alerta que a projeção pode aprisionar o indivíduo em um vínculo de dependência e idealização. Nesse caso, a relação não é construída com a pessoa real, mas com uma imagem inconsciente depositada nela.

A frustração torna-se inevitável, pois nenhum ser humano é capaz de sustentar eternamente a carga simbólica de uma projeção arquetípica.




 

 

O encontro verdadeiro: individuação e integração

 

Para Jung, o verdadeiro encontro de almas ocorre no processo de individuação, quando o sujeito reconhece e integra seus conteúdos inconscientes. A “alma gêmea”, nesse sentido, não é tanto uma pessoa externa, mas o próprio movimento de reconciliação entre os opostos internos — consciente e inconsciente, masculino e feminino, racional e intuitivo.

O parceiro amoroso pode, sim, funcionar como catalisador desse processo, despertando áreas ainda não desenvolvidas da psique. Porém, o amadurecimento psicológico consiste em retirar gradualmente a projeção, enxergando o outro em sua humanidade real, ao mesmo tempo em que se reconhece mais plenamente a si mesmo.

 

 

Conclusão

 

Na perspectiva junguiana, a ideia de alma gêmea pode ser entendida como um símbolo do anseio humano por totalidade e integração. O encontro amoroso é uma oportunidade de autoconhecimento, mas também um risco de aprisionamento em projeções inconscientes. O desafio consiste em transformar o fascínio inicial em um relacionamento consciente, onde cada um reconhece no outro não apenas um reflexo de si, mas um ser único, com sua própria jornada. Assim, a verdadeira “alma gêmea” não é apenas encontrada fora, mas também despertada dentro de nós, no caminho da individuação.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia

Psicólogo Clínico

CRP: 06/143949

 

 

Referências Bibliográficas:

 

JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

 

JUNG, C. G. Símbolos da Transformação. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

JUNG, C. G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

 

JUNG, C. G. Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo. Petrópolis: Vozes, 2013.

 

EDINGER, Edward F. Ego e Arquétipo. São Paulo: Cultrix, 1995.

 

STEIN, Murray. Jung: O Mapa da Alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

 

PLATÃO. O Banquete. São Paulo: Martin Claret, 2008.


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A Noite Escura da Alma – Uma Reflexão Poética

 



Há noites que parecem não ter fim.

Sombras nos envolvem, o silêncio pesa e a esperança parece distante.

Chamamos a esse tempo de noite escura da alma.


Jung nos recorda que tais momentos não são castigos, mas chamados da vida.

É quando o ego, frágil e limitado, se vê diante de algo maior:

o inconsciente, com seus mistérios,

a sombra, com suas verdades ocultas,

e o Si-mesmo, que nos chama a crescer.


Na noite escura, tudo parece perdido,

mas é ali que a transformação germina.

O velho se desfaz para que o novo possa nascer.

As máscaras caem, e o coração, nu, aprende a confiar.


Não é fácil atravessar essa escuridão.

Ela pede entrega, coragem e silêncio.

Mas quem a aceita descobre que,

sob a escuridão mais densa,

há uma chama que nunca se apaga.


Jung nos ensina que a dor é também iniciação.

O colapso do sentido é o prelúdio de uma vida mais plena.

A noite escura não é o fim, mas o portal.

E ao atravessá-la, descobrimos que a alma, enfim,

encontra a luz que vinha buscando desde sempre:

a luz interior, que nenhuma sombra pode apagar.

Autor: Evandro Rodrigo Tropéia


A NOITE ESCURA DA ALMA NA PERSPECTIVA DE CARL GUSTAV JUNG

 




A expressão “Noite Escura da Alma”, originalmente cunhada por São João da Cruz, descreve um período de intensa crise espiritual e existencial, no qual a pessoa experimenta a ausência de sentido, a perda de referências e a sensação de abandono divino. Na psicologia analítica de Carl Gustav Jung, essa vivência pode ser compreendida como uma etapa fundamental do processo de individuação — isto é, o caminho em direção à totalidade psíquica e à realização do Si-mesmo.

Para Jung, o sofrimento profundo, as perdas e as crises que compõem a “noite escura” não são apenas obstáculos, mas oportunidades de transformação. Em sua obra, ele enfatiza que a psique possui uma dinâmica autônoma que, através de símbolos e imagens, conduz o indivíduo a integrar conteúdos inconscientes reprimidos. Assim, momentos de escuridão podem ser vistos como chamados internos para o confronto com a sombra — os aspectos negados ou não reconhecidos da personalidade.


A “noite escura” é, nesse sentido, uma travessia pelo inconsciente, em que antigas estruturas do ego entram em colapso, abrindo espaço para uma nova relação com o Si-mesmo. Jung afirma que esse confronto pode ser doloroso, pois exige a morte de ilusões e a renúncia a identificações rígidas, mas é também o ponto de virada para uma vida mais autêntica e integrada (JUNG, 2011).



Em diálogo com a tradição mística, Jung via na experiência da escuridão interior não apenas um sofrimento patológico, mas também um processo iniciático. Trata-se de um mergulho necessário, em que a psique busca restaurar sua ordem simbólica e reorientar o indivíduo em direção a um propósito mais profundo. Nessa perspectiva, a “noite escura da alma” pode ser entendida como uma expressão arquetípica do caminho humano rumo à transcendência.

 

Evandro Rodrigo Tropéia

Psicoterapeuta

CRP: 06/143949

 

Referências bibliográficas:

 

JUNG, C. G. Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

 

JUNG, C. G. Memórias, Sonhos, Reflexões. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

 

JUNG, C. G. Psicologia e Religião. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

 

STEIN, Murray. Jung: O Mapa da Alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

 

SANFORD, John A. O Inconsciente como Graça. São Paulo: Paulus, 1991.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O ESPELHO DA FLORESTA

 

 


Elias caminhava por entre árvores altas, quando a noite caiu sobre sua alma.

Sentia-se observado, mas não havia ninguém. Apenas o sussurro das folhas e o peso de um silêncio antigo.

No coração da mata, encontrou um espelho.

Velho, manchado pelo tempo, repousava encostado em uma árvore.

Movido pela curiosidade, aproximou-se.

No reflexo, não viu apenas a si mesmo.

Atrás dele, surgia uma figura escura, com olhos intensos como brasas escondidas.

Era sua sombra — feita de medos, culpas, raivas e desejos não ditos.

 

Assustado, Elias recuou.

Mas a sombra não partia. Seguia seus passos, como uma presença inevitável.

Quanto mais ele corria, mais ela o acompanhava.

 

Exausto, voltou-se para o espelho.

E, pela primeira vez, ousou ouvir.

 

A sombra sussurrou:

— “Não sou teu inimigo. Sou a parte que escondes, o que negas e temes. Mas também sou tua força esquecida, tua coragem adormecida. Aceita-me… e serás inteiro.”

 

Elias respirou fundo.

Estendeu a mão.

Ao tocar o espelho, luz e escuridão se fundiram.

E ele acordou — não mais dividido, mas pleno.

 

Porque compreender a sombra é aprender que dentro da noite também florescem estrelas.




 

Reflexão: a sombra, em Jung, não é aquilo que devemos eliminar, mas integrar. Ela contém não só nossos impulsos reprimidos, mas também potenciais adormecidos. Negá-la nos fragmenta; acolhê-la nos fortalece.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia

 Psicólogo clínico

CRP: 06/143949

 




A Descoberta do Sentido

 



 

Lucas sempre se sentiu perdido e sem direção na vida. Tinha um emprego estável, amigos e familiares que o amavam, mas algo dentro dele gritava por mais. Ele se sentia como se estivesse vivendo em piloto automático, sem um propósito claro ou uma direção definida.

 

Um dia, enquanto caminhava pela cidade, se deparou com um amigo que estava passando por uma crise de identidade. Seu amigo estava questionando sua carreira, seus relacionamentos e sua própria existência. Lucas o ouviu atentamente e compartilhou suas próprias experiências e pensamentos.

 


Ao ouvir as palavras de Lucas, seu amigo começou a se sentir mais aliviado e confiante. Lucas percebeu que, ao ajudar seu amigo, estava fazendo algo que realmente importava.

 

Nesse momento, Lucas começou a se dar conta de que seu propósito na vida era ajudar os outros a encontrar seu próprio caminho e propósito. Ele se sentiu realizado e começou a se sentir mais conectado com os outros.

 

 

Lucas começou a se sentir mais confiante e realizado após a conversa com seu amigo. Ele percebeu que não precisava ter todas as respostas para ajudar os outros, mas sim estar presente e ouvir atentamente.

 

Nos dias seguintes, Lucas começou a notar oportunidades para ajudar os outros. Ele ouviu atentamente as preocupações de um colega de trabalho e ofereceu palavras de encorajamento a um vizinho que estava passando por um momento difícil.

 

A cada interação, se sentia mais conectado com os outros e mais realizado. Ele começou a se dar conta de que seu propósito não era apenas ajudar os outros, mas também se conectar com eles de uma forma mais profunda.

 

Um dia, Lucas decidiu começar um blog para compartilhar suas experiências e pensamentos com um público mais amplo. Ele escreveu sobre sua jornada em busca de propósito e significado, e sobre como havia descoberto seu propósito em ajudar os outros.

 

O blog rapidamente ganhou popularidade, e ele começou a receber mensagens de pessoas de todo o mundo que estavam sendo inspiradas por suas palavras. Lucas se sentia realizado e grato por poder fazer uma diferença na vida dos outros.

 

Lucas decidiu escrever um livro sobre sua jornada em busca de propósito e significado. Ele passou meses escrevendo e revisando o manuscrito, até que finalmente o livro foi publicado.

O livro, intitulado "A Descoberta do Sentido", rapidamente se tornou um best-seller e recebeu críticas positivas de leitores de todo o mundo. Ele começou a receber convites para falar em eventos e conferências, compartilhando sua história e inspirando outras pessoas a encontrar seu próprio propósito.

Como palestrante, se destacou por sua autenticidade e paixão. Ele falava com convicção e inspiração, e suas palavras tocavam o coração das pessoas. Lucas se tornou um dos palestrantes mais procurados em sua área, e sua mensagem de esperança e inspiração alcançou milhares de pessoas.

Através de seu livro e palestras, Lucas conseguiu fazer uma diferença positiva na vida de muitas pessoas. Ele se sentia realizado e grato por poder compartilhar sua história e inspirar os outros.



E assim, Lucas continuou a viver sua vida com propósito e significado, inspirando os outros a fazer o mesmo.

 








Evandro Rodrigo Tropéia

 Psicólogo clínico 

CRP: 06/143949