A priori, inúmeras pessoas afirmam que sonhar é algo natural e que os sonhos, na maioria das vezes são bobagens e que não deveríamos nos preocupar com as mensagens que eles nos trazem.
Na visão da Psicologia Analítica proposta por Carl Gustav Jung (1875-1961) o sonho é uma ponte que liga o consciente e o inconsciente. Por ser esta ponte, os sonhos consistem num material de extrema importância no contexto da psicoterapia.
Robin Robertson (2021) nos sugere em seus estudos que os sonhos não são uma exclusividade da espécie humana e que as outras espécies também podem sonhar. As pessoas que são apaixonadas por animais podem observar que suas criaturas quando estão em estado de sono gemem, fungam, agitam a cauda, movimentam as patas e que todos estes movimentos podem nos mostrar que eles estão sonhando.
O sonho na concepção analítica pode ser:
·
Inaugural;
·
Arquetípico;
·
Compensatório;
·
Premonitório.
O Sonho inaugural consiste naquele tipo de sonho que temos quando entramos numa nova etapa da vida ou recomeçamos algo como um novo emprego, um novo estudo ou o início da meia idade, por exemplo.
Os sonhos arquetípicos são os
sonhos que possuem natureza transpessoal. Neste tipo de sonho, os mitos, os símbolos
e as imagens se manifestam de maneira fascinante. (1)
Quando os sonhos são compensatórios
entendemos que eles carregam a função de compensar a carência da personalidade
e têm a missão de nos advertir quanto aos perigos e preocupações que rondam nosso
estado de vigília. (1)
Os sonhos premonitórios podem
representar uma antecipação daquilo que está por vir. Segundo Jung, os sonhos
podem anunciar situações mesmo antes que elas aconteçam. (1)
Pretendo compartilhar aqui um exemplo clássico de sonhos registrados na Bíblia Sagrada. Refiro-me aos sonhos de José, pai adotivo de Jesus, segundo a tradição cristã. No evangelho de Mateus, capítulo 1, versículos 19 e 20, um anjo apareceu em sonhos a José, dizendo que ele não deveria ter medo de receber Maria como sua esposa, pois o que ela havia concebido foi realizado por obra do Espírito Santo. (2)
Neste relato, podemos ver claramente três aspectos do sonho: o compensatório, o arquetípico e o inaugural.
Compensatório pelo fato de José, naquele momento, estar se sentindo confuso, decepcionado e com medo. Este sonho veio para compensar os sentimentos, pensamentos e as emoções de José naquele momento em sua vida.
Este sonho é Arquetípico ao levarmos em consideração a figura celestial personificada no Anjo e também o menino Deus que haveria de nascer. O sonho também é inaugural por revelar uma nova etapa na vida de José.
Ainda no Evangelho de Mateus, no capítulo 2, versículo 13, o anjo
novamente aparece a José e lhe exorta a fugir com o menino Jesus e sua mãe
Maria para o Egito, pois o rei Herodes tinha a intenção de matar a criança.
Aponto aqui a característica arquetípica, novamente expressa na personificação
humana, e também a premonitória, pois este sonho estava antecipando uma situação
ameaçadora que estava por vir. (2)
A função geral dos sonhos é restituir o equilíbrio de nossa psique. Por esta razão, não deveríamos ignorá-los e muito menos afirmar que são bobagens. Pelo contrário, os sonhos são muito significativos e fazem parte de nossa totalidade como pessoa humana.
É preciso criar o hábito de anotar os sonhos, elemento por elemento, conforme eles forem emergindo em nossa consciência.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
Psicoterapeuta – CRP: 06/143949
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) Léxico dos Conceitos Junguianos a partir dos originais de Carl Gustav Jung. Organizado por Helmut Hark (2000)
(2) Bíblia do Peregrino. Edição de Estudos. Ed. Paulus. 2017.
Robert, Robin. Guia Prático de Psicologia Junguiana. Um Curso básico sobre os fundamentos básicos da Psicologia Profunda. Ed. Cultrix. 2021.
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