quarta-feira, 12 de julho de 2023

O DILEMA DO ADOLESCENTE NO CAMINHO DA INDIVIDUAÇÃO

 



A adolescência é o período do desenvolvimento humano que se caracteriza pelo momento de transição entre a juventude e a fase adulta, onde sua maior turbulência ocorre pela perda da identidade infantil. É a dolorosa sensação do paraíso perdido.

O desequilíbrio emocional, a instabilidade e a tão famosa crise existencial fazem parte deste período doloroso, mas também transformador da vida humana.

O psicanalista Maurício Knobel (1981) aborda esta temática utilizando o termo “Síndrome da Adolescência Normal”, que consiste na entidade semipatológica que é perturbada e perturbadora para o mundo. Esta síndrome apesar de perturbadora é absolutamente necessária para o adolescente.

Knobel(1981) afirma que o adolescente deve enfrentar o mundo dos adultos e se desprender gradativamente de seu universo infantil.

A adolescência é um período de elaboração de lutos, ou seja, é o momento de lidar com perdas que se fazem necessárias durante a jornada de cada ser humano.

Segundo Arminda Aberastury (1981) o adolescente precisa desenvolver a capacidade de elaborar três lutos fundamentais:

1.      O luto pela transformação do corpo infantil;

2.      O luto pelo papel e identidade infantil;

3.      O luto pela perda dos pais da infância.

Trata-se de um momento da vida repleto de conflitos entre a aceitação de uma independência dentro de um limite considerável de dependência.

Aberastury (1981) nos diz que é um período de contradições, confuso, ambivalente e doloroso que é caracterizado por fricções com o meio familiar e social. Este período de inúmeras transformações implica a busca por uma nova identidade. O adolescente precisa de espaço. Este espaço deve ser vivenciado e respeitado.

A crise normal do adolescente é configurada por inúmeras transformações no aspecto da personalidade. Estas mudanças envolvem o corpo e a mente. A adolescência é um período de descobrimentos. A arte de se descobrir se torna uma luta muito dolorosa, pois os seus corpos e seus rostos sofrem mudanças e alterações diárias. Não é fácil lidar com a incessante e ansiosa busca pelo mistério da vida.

Assim como o corpo necessita de alimento para crescer e se sustentar, a Personalidade também necessita de experiências adequadas para individuar-se.

Conforme os estudos propostos por Hall e Norbdy (2014), o papel dos pais no caminho da individuação do adolescente é fundamental. O Processo de Individuação proposto por Carl Gustav Jung (2016) consiste no indivíduo que inicia a sua vida numa espécie de totalidade indiferenciada. Bem como uma semente que cresce e se transforma numa bela árvore, o ser humano se desenvolve para chegar à sua totalidade, ou seja, a personalidade Plena.

O calor da mãe e a presença da figura paterna são também fundamentais nos anos seguintes da vida de uma pessoa, principalmente na adolescência. Em muitas ocasiões, as maiorias das pessoas pensam que o adolescente já está “grande” demais e não necessita mais de colo e atenção. Grave engano! Necessita e muito! É justamente nesta etapa da vida que seu filho ou sua filha mais necessitam de apoio, carinho e dedicação. Negligenciá-lo nesse estágio, pode se configurar numa catástrofe total.

O fato da mulher trabalhar fora, assim como no caso do pai, não pode ser uma barreira no contexto educacional da criança ou do adolescente. O contato estabelecido entre pais e filhos, jamais deverá ser medido por um relógio e sim pelo seu valor interior. Faça com que o momento em que você estiver com seu filho seja um momento único e valoroso!

A maior dor que considero ser enfrentada no período da adolescência é a cobrança excessiva pela perfeição. Uma perfeição inexistente no contexto da vida humana. O adolescente vivencia a dor de uma imperfeição com muito mais intensidade. Este ritmo intenso de pensamentos, sentimentos e emoções podem conduzir o adolescente a um estado de suprema angústia.

É preciso cuidar dos nossos jovens através de um bom e caloroso acolhimento, no entanto, também é necessário permitir que os jovens tenham seu próprio espaço para que eles possam evoluir na dolorosa e magnífica tarefa de se tornar pessoa.

 

 

Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom

CRP: 06/143943

 

Referências Bibliográficas:

 

ABERASTURY, A. & KNOBEL, M. Adolescência Normal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981.


JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2016.

 

HALL C.S. e NORDBY V. J. Introdução à Psicologia Junguiana, São Paulo, Cultrix, 2014.

 

 


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