A adolescência é o período do desenvolvimento humano que se caracteriza
pelo momento de transição entre a juventude e a fase adulta, onde sua maior
turbulência ocorre pela perda da identidade infantil. É a dolorosa sensação do
paraíso perdido.
O desequilíbrio emocional, a instabilidade e a tão famosa crise
existencial fazem parte deste período doloroso, mas também transformador da
vida humana.
O psicanalista Maurício Knobel (1981) aborda esta temática utilizando o
termo “Síndrome da Adolescência Normal”, que consiste na entidade
semipatológica que é perturbada e perturbadora para o mundo. Esta síndrome
apesar de perturbadora é absolutamente necessária para o adolescente.
Knobel(1981) afirma que o adolescente deve enfrentar o mundo dos adultos
e se desprender gradativamente de seu universo infantil.
A adolescência é um período de elaboração de lutos, ou seja, é o momento
de lidar com perdas que se fazem necessárias durante a jornada de cada ser
humano.
Segundo Arminda Aberastury (1981) o adolescente precisa desenvolver a
capacidade de elaborar três lutos fundamentais:
1.
O luto pela transformação do corpo infantil;
2.
O luto pelo papel e identidade infantil;
3.
O luto pela perda dos pais da infância.
Trata-se de um momento da vida repleto de conflitos entre a aceitação de
uma independência dentro de um limite considerável de dependência.
Aberastury (1981) nos diz que é um período de contradições, confuso,
ambivalente e doloroso que é caracterizado por fricções com o meio familiar e
social. Este período de inúmeras transformações implica a busca por uma nova
identidade. O adolescente precisa de espaço. Este espaço deve ser vivenciado e
respeitado.
A crise normal do adolescente é configurada por inúmeras transformações
no aspecto da personalidade. Estas mudanças envolvem o corpo e a mente. A
adolescência é um período de descobrimentos. A arte de se descobrir se torna
uma luta muito dolorosa, pois os seus corpos e seus rostos sofrem mudanças e
alterações diárias. Não é fácil lidar com a incessante e ansiosa busca pelo mistério
da vida.
Assim como o corpo necessita
de alimento para crescer e se sustentar, a Personalidade também necessita de
experiências adequadas para individuar-se.
Conforme os estudos propostos
por Hall e Norbdy (2014), o papel dos pais no caminho da individuação do
adolescente é fundamental. O Processo de Individuação proposto por Carl Gustav
Jung (2016) consiste no indivíduo que inicia a sua vida numa espécie de
totalidade indiferenciada. Bem como uma semente que cresce e se transforma numa
bela árvore, o ser humano se desenvolve para chegar à sua totalidade, ou seja,
a personalidade Plena.
O calor da mãe e a presença da figura paterna são também fundamentais nos
anos seguintes da vida de uma pessoa, principalmente na adolescência. Em muitas
ocasiões, as maiorias das pessoas pensam que o adolescente já está “grande”
demais e não necessita mais de colo e atenção. Grave engano! Necessita e muito!
É justamente nesta etapa da vida que seu filho ou sua filha mais necessitam de apoio,
carinho e dedicação. Negligenciá-lo nesse estágio, pode se configurar numa
catástrofe total.
O fato da mulher trabalhar fora, assim como no caso do pai, não pode ser
uma barreira no contexto educacional da criança ou do adolescente. O contato
estabelecido entre pais e filhos, jamais deverá ser medido por um relógio e sim
pelo seu valor interior. Faça com que o momento em que você estiver com seu
filho seja um momento único e valoroso!
A maior dor que considero ser enfrentada no período da adolescência é a
cobrança excessiva pela perfeição. Uma perfeição inexistente no contexto da
vida humana. O adolescente vivencia a dor de uma imperfeição com muito mais
intensidade. Este ritmo intenso de pensamentos, sentimentos e emoções podem
conduzir o adolescente a um estado de suprema angústia.
É preciso cuidar dos nossos jovens através de um bom e caloroso
acolhimento, no entanto, também é necessário permitir que os jovens tenham seu
próprio espaço para que eles possam evoluir na dolorosa e magnífica tarefa de se
tornar pessoa.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
CRP: 06/143943
Referências Bibliográficas:
ABERASTURY, A. & KNOBEL, M. Adolescência Normal. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1981.
JUNG, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed.
Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2016.
HALL C.S. e NORDBY V. J. Introdução à
Psicologia Junguiana, São Paulo, Cultrix, 2014.