É extremamente necessário
ressaltar a todo o momento a importância da ciência em variados aspectos e
evoluções construtivas e colaborativas para o desenvolvimento da humanidade.
As inúmeras descobertas
científicas têm contribuído e muito para o homem no contexto dos seus avanços
medicinais, psicológicos, histórico, morais e legislativos, por outro lado, é
necessário a busca constante pelo equilíbrio e pela compreensão analítica das
evoluções para que não ocorra uma perigosa unilateralidade no caminho do
conhecimento de si mesmo e da sociedade de maneira geral.
Carl G. Jung (1875-1961) nos
apresenta uma memorável definição sobre os aspectos científicos em sua obra
“Estudos Alquímicos” com relação à unilateralidade:
Carl Gustav Jung |
“... De fato, a ciência não é um instrumento perfeito,
que só causa dano quando é como um fim em si mesmo. A ciência deve servir, ela
erra somente quando pretende usurpar o trono.” (JUNG, 1967)
Segundo Jung, a ciência
consiste na modalidade de compreensão, ou seja, ela é uma via de condução do
conhecimento humano e só obscurece a vista quando reivindica para si o
privilégio de ser a única forma de compreender todas as coisas, ocasionando
assim o pensamento unilateral, isto é, uma via de mão única.
Assim, também a religião não
deve ser uma via de mão única no que diz respeito ao desenvolvimento moral de
cada ser humano. A partir do pensamento de Jung, podemos observar que toda
prática religiosa conduzida de forma unilateral pela pessoa, gera em si um
intenso desequilíbrio que se origina de canalização de energia mal elaborada.
A princípio a ideia de
Ciência e Espiritualidade nos propõe um pensamento de extrema oposição, onde
uma não completaria a outra de forma alguma, por conta de inúmeras
divergências. Essa concepção de forte oposição cai por terra explicitamente a
partir dos estudos de Jung, que se apoiou nos elementos da alquimia para a
elaboração de muitos dos seus conceitos.
Sobre as questões dos
opostos e das barbáries negativas da unilateralidade, o autor nos mostra um
importante apontamento:
“... Os opostos se equilibram na mesma balança – Sinal de
Cultura. Ainda que representem uma força propulsora, a unilateralidade é sinal
de barbárie.” (JUNG, 1967)
A Ciência e a
Espiritualidade, mesmo sendo concepções opostas devem caminhar juntas na busca
de uma compreensão mais ampla desse universo misterioso e extremamente complexo
chamado ser humano.
A partir de um processo
analítico contundente elaborado pelo próprio Jung percebemos que inúmeros
tratamentos obtiveram sucesso mediante a junção entre os avanços da Ciência, em
especial a medicina, e os mistérios da prática de uma espiritualidade.
Não se pode fechar os olhos
para este aspecto e as contribuições positivas que esta referida união vem
proporcionando à vida de muitas pessoas independentemente da fé que elas
professam.
Através da espiritualidade e
seus princípios, o ser humano alcança um nível elevado de autoconhecimento e
adquire uma postura equilibrada diante das adversidades da vida, tais como as
enfermidades físicas, as angústias psicóticas, os medos, os anseios, as paixões
e os desejos presentes nos conteúdos inconscientes da psique.
Quando o indivíduo constrói
um vínculo saudável com a religião é possível chegar ao conhecimento de si
mesmo e assim, elaborar seus conflitos ao deparar-se com a própria sombra e
descobrir a divindade existente dentro de si que consiste no processo de
“espiritualização do eu”.
Segundo Carl G Jung, o
intelecto apenas prejudica a alma quando tem a pretensão de usurpar a
espiritualidade. A espiritualidade representa algo maior do que o aspecto
intelectual. O Espírito consiste em uma direção e um princípio de vida que aspira
alturas luminosas e sobre humanas.
(Evandro Rodrigo Tropéia)
Referências Bibliográficas:
JUNG,
C. G. Psicologia e Religião. Obras completas de C. G. Jung, v. 11/1. Vozes,
Petrópolis, 1978.
JUNG
, C.G., 2003, Estudos Alquímicos, Petrópolis: Vozes, 1990.
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