Carl Gustav Jung |
Em sua maravilhosa obra "Memórias,
Sonhos e Reflexões", Carl Gustav Jung nos deixou uma de suas mais
magnificas frases:
"Ser Normal é o objetivo dos
fracassados."
Através desse pensamento analítico de
Jung, quero propor ao caro leitor uma reflexão sobre o padrão de normalidade
criado pela imposição de uma civilização. Em muitas ocasiões buscamos
incansavelmente uma maneira, até certo ponto insana, de "normalizar"
várias áreas de nossa vida.
Mas, qual o propósito real dessa
busca?
Certamente que, o objetivo dessa ilusão
é atingir determinado padrão proposto por uma civilização automatizada,
informatizada, globalizada e totalmente dominada por um sentimento doentio que
advém do desejo de ser aceito, acolhido, reconhecido e elogiado pela sociedade.
Como por exemplo, citarei aqui um caso
simples de um homem que não sabe dirigir, pois carrega em si um intenso pavor
de direção.
Nossa, mas não pode ser assim! Isso não
é normal! Ele precisa urgentemente enfrentar isso e dirigir como um homem de
verdade. Onde já se viu? Até a mulher dele dirige e ele não!
Claro que dirigir é muito bom e de
certa forma nos leva à independência.
Mas, por que ele deve dirigir? Por que
a civilização acha isso correto? A Sociedade julga que tal ação é normal
e homem que não dirige não é normal?
Não, certamente que ele deve dirigir
assim que estiver preparado para isso!
Através de seu autoconhecimento, do
mergulho em si mesmo, onde conteúdos inconscientes emergirão para a
consciência, este homem chegará ao seu ponto de equilíbrio individual e sem
pressão alguma ele pode até começar a dirigir.
Este homem pode até não dirigir, mas e
as outras qualidades? Por que a sociedade não as enxerga?
Sigmund Freud, no ano de 1930, pontua
em sua obra "O Mal estar na Civilização":
"Existem certos
homens que não contam com a admiração de seus contemporâneos, embora a grandeza
deles repouse em atributos e realizações completamente estranhos aos objetivos
e aos ideais da multidão." (FREUD 1930)
Sigmund Freud |
A respeito de todos os fatos que
ocorrem na civilização em que vivemos, Freud nos deixou um grande ensinamento
terapêutico no ano de 1909 ,em seus escritos sobre o caso de Hans, o seu único
caso clínico infantil :
"Em última análise, não é nosso dever ‘compreender’ um caso logo à
primeira vista: isso só é possível num estádio posterior, quando tivermos
recebido bastantes impressões sobre ele. Por enquanto, deixaremos em suspenso
nosso julgamento e daremos nossa atenção imparcial a tudo quanto houver para observar."
Sem dúvida, este fragmento
psicanalítico de Sigmund Freud, faz todo sentido. Ainda mais em uma sociedade
julgadora e dona de verdades em que vivemos hoje!
O Fato do homem não dirigir e sua esposa
sim nos remete a uma espécie de Tabu, nos direcionando a outro grande
apontamento de Freud:
"O significado de ‘tabu’, como
vemos, diverge em dois sentidos contrários. Para nós significa, por um lado,
‘sagrado’, ‘consagrado’, e, por outro, ‘misterioso’, ‘perigoso’, ‘proibido’,
‘impuro’. O inverso de ‘tabu’ em polinésio é ‘noa’, que significa ‘comum’ ou
‘geralmente acessível’. Assim, ‘tabu’ traz em si um sentido de algo
inabordável, sendo principalmente expresso em proibições e restrições. Nossa
acepção de ‘temor sagrado’ muitas vezes pode coincidir em significado com
‘tabu’.(Sigmund Freud 1913)
A partir dessa linha de pensamento,
conclui-se que na verdade não existe o "normal". O Normal é ser você
mesmo.
Bem como nos diz Jung: Ser normal é o
objetivo dos fracassados. Enquanto que Freud aponta que a normalidade é uma
mera ficção!
Evandro Rodrigo Estudante de Psicologia |